segunda-feira, 27 de outubro de 2008

SERÁ O MUNDO DOS ESPERTOS?


Vivenciamos certas situações, as quais nos causam indignação e revolta. É quase inacreditável a “cara de pau” com que algumas pessoas se revestem para cuspir em nossa face a conhecida frase: “O mundo é dos espertos!”, sempre com um gargalhar sarcástico por detrás da máscara feita de madeira nobre, livrando-se de qualquer suspeita.

Por eu sempre ter sido muito bobinha, ingênua, tola (utilizem o adjetivo que considerarem mais adequado), por eu sempre pensar uma vida inteira antes de dar qualquer passo, passar-me para trás nunca foi tarefa difícil. Por eu ser boba, me enganam e quando me dou conta, não há mais nada o que fazer. Por eu pensar demais, me ultrapassam e quando resolvo apertar o passo na corrida, já estão cruzando a linha de chegada.

Dificilmente desfaço-me desta cara de tonta, dificilmente consigo sentir o sentimento de revolta, por isso quando o sinto, não sei exatamente o que fazer. Comer chocolate sempre será uma saída, na falta, hoje comi bolachas e fiquei andando pela casa, pensando em descarregar nas palavras. Se ainda fosse semana passada, já teria escrito o texto e talvez já estaria me sentindo melhor, mas me fiz uma promessa: dar um tempo para a escrita, por hora. No entanto, também tenho o péssimo hábito de não cumprir promessas. (Por favor, perdoem-me todos aqueles que estão esperando que eu cumpra alguma promessa que lhes fiz. Um dia, as promessas que ainda me lembro, pretendo cumpri-las.)

Hoje, por enquanto, o problema não é minhas promessas, o problema é que certas pessoas são “espertas” e tentam enganar os “tolos”. Estas pessoas são capazes de se transformarem, da noite para o dia, de algozes em vítimas e pior, muitas vezes acreditamos serem verdadeiros heróis.

Depois de enganados, sentimo-nos, verdadeiramente, comovidos e sentidos com suas falas, que até mesmo suas palavras verdadeiras adquirem significados puramente figurados aos nossos ouvidos, descartando o único significado real, o literal.

É verdade que, possivelmente, um dia a máscara cairá e será neste exato momento que a revolta surgirá.

Contudo, aprendemos (pelo menos, sempre tentaram me ensinar e espero, sinceramente, estar aprendendo) que para todo o esforço há uma recompensa; que mentira tem perna curta; que devemos andar pelo caminho correto, por mais duro que este possa nos parecer a princípio; que a justiça dos homens pode falhar, mas a de Deus nunca falha. Por isso, por acreditarmos que Deus tudo vê, começamos a nos acalmar.

O mais engraçado nisto tudo é que este sentimento de revolta só chegou a esta proporção por uma culpa inteiramente minha. Poderia ter feito algo ontem, anteontem ou (ante)anteontem, entretanto, deixei para hoje e pensava em deixar para amanhã.

Agora já é tarde e talvez apenas eu tenha visto o que se esconde por detrás daquela máscara...


Dany Ziroldo

domingo, 26 de outubro de 2008

CALAR DE UMA POETA

Nestas páginas incertas
Faço destes os derradeiros versos
Escritos por poeta menina

Impondo-me o silêncio
Como forma de castigo
Por meu habitual desleixo

Impondo-me o silêncio
Como forma de protesto
Por desfaçatez alheia

Cala-se hoje a voz de mais uma poeta...

Dany Ziroldo

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

DOLOROSO ABRAÇO DE DESPEDIDA


Depois de tanto tempo sem ver aquela tia distante, é natural que haja alegrias no encontro e tristezas na despedida.

Assim que chegou para a costumeira visitinha rápida, nos recebemos com abraços e sorrisos, contamos as novidades e após alguns breves minutos, verificado o adiantado das horas, ela decidiu que já estava na hora de pegar a estrada.

Como em todas as despedidas, foi impossível disfarçar nossa tristeza. Ela me abraçou forte, como sempre fazia, um abraço de quem se despede e não sabe se irá voltar ou, se voltar, não sabe quando.

Com seu abraço apertado meus olhos se encheram de lágrimas e minha tia, com certeza, percebeu minha dor, a dor da partida e por isso tentou me consolar. Disse-me que poderia ir visitá-la e caso algo me impedisse de ir, que não me preocupasse, pois ela voltaria assim que fosse possível e da próxima vez permaneceria por mais tempo.

Percebi que os olhos dela também se encheram de lágrimas e eu, comovida, deixei-me envolver pelo seu abraço, talvez o abraço de despedida mais doloroso de toda a minha vida...

_,,_,,_,,_

Por favor, amigas e amigos, não se entristeçam por esta despedida, nem sou tão ligada a esta minha tia e sei que ela voltará... Agora, preciso contar-lhes a história de um ângulo diferente, no entanto, vista por este lado, só conto para vocês e espero que não contem a ninguém...

Depois de um longo tempo sem nos vermos, naturalmente, mostrei-me feliz com a visita de minha tia, a qual, como de costume, foi rápida, o suficiente para verificar se tudo estava bem. Na hora da despedida, ela abraçou-me forte e demoradamente.

Ainda não sei ao certo qual bicho se escondia em minhas costas ou estava camuflado no braço dela, sei apenas que quando seus braços me envolveram e me apertaram, senti o ferrão de algum animalzinho venenoso infiltrando-se em minha pele, quis soltar-me daquele abraço que me apertava, me ferroava e queimava minhas costas, porém ela abraçava-me cada vez mais forte, um abraço de quem está de partida e sabe que um reencontro poderá demorar algum tempo para acontecer.

Um único pensamento corria por minha cabeça naqueles breves minutos: “Como poderia me livrar daqueles braços?” Não encontrava maneiras e quanto mais apertado tornava seu abraço, mais meus olhos se enchiam de lágrimas... Imagino que ela ficou pensando que eu não queria que partisse, pois com os olhos molhados me disse para ir visitá-la e se Deus permitisse, no final do ano voltaria para uma nova visita.

Assim, ela partiu. Deixando-me de recordação o abraço de despedida mais doloroso de toda a minha vida, do qual carrego como resquício, uma pequena marca em minhas costas...

Dany Ziroldo

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

“OS INCOMODADOS QUE SE MUDEM!”


Não sei dizer ao certo quem foi que teve coragem de pegar o telefone e discar 190. Sei apenas que isso muito me agradou, afinal, já passava da meia noite e eles ainda continuavam ouvindo aquelas músicas, que considero “músicas de corno”, no mais alto som e o que é pior, cantavam junto com as músicas.

Não pensem que sou uma velha chata, pois isso não sou não, mas temos que concordar que até mesmo para festas e alegrias exageradas há um limite, o qual, inclusive, está previsto em lei.

Querem festar? Ótimo! Querem me convidar para a festa? Melhor ainda. Contudo, vocês não são os únicos habitantes desta pequena cidade, desta rua ou desta casa. Não custa nada se colocarem, por um momento, no lugar do próximo e pensar que ainda era terça-feira, que amanhã seria quarta e que muitos, até mesmo, muitos de vocês, teriam que acordar cedo no dia seguinte para enfrentar mais um dia de trabalho.

Reconheço que, infelizmente, colocar-se no lugar do outro é tarefa muito difícil para a maioria das pessoas e que muitos ainda têm a coragem de dizer: “Os incomodados que se mudem!” Quanto egoísmo, meus caros.

Se todos pensássemos desta forma (“Os incomodados que se mudem.”), não haveria mais lugar no mundo para aonde os incomodados pudessem se mudar e teríamos que mudar esta frase para: “Os incomodados que me interrompam e conquistem seu espaço!”

Já pensaram se todos nós tivéssemos que interromper aqueles que nos incomodam? Com certeza, o mundo se transformaria em um caos muito maior do que já é. Teríamos, todos os dias, pessoas brigando com aqueles que as incomodam, tentando interrompê-los com sua “incomodação” para conquistarem seu espaço.

Nossa sorte, é que há sempre um antônimo para quase todas as palavras ou idéias. Se pensamos em mal, logo lembramos que há o bem. Se pensamos em tristeza, sorrimos porque lembramos que, em algum lugar, ainda existe a alegria. Se pensamos em ódio, descobrimos, em seguida, que o amor ainda vive. Se pensamos em egoísmo, nos surpreendemos com a existência da palavra altruísmo.

E por fim, se pensamos que existem pessoas que dizem: “Os incomodados que se mudem!”, podemos ter a certeza, que também existem outras que pensam: “Não desejo para o outro, aquilo que não quero para mim”.

Dany Ziroldo

DESEJO PARA HOJE


Hoje o meu desejo era escrever, um desejo simples assim, apenas escrever.

Mas é tarde demais, porque hoje não é mais hoje. Há cinco minutos, ele tornou-se ontem e, ao mesmo tempo, tornou-se amanhã. Pode parecer complicado a princípio, porém nada que não possa ser explicado, pelo menos espero...
É assim, o hoje se transformou duplamente e simultaneamente e ainda permaneceu imutável. Fez-se ontem, fez-se amanhã e ainda assim, continua sendo hoje, simples não?
Tudo bem, confesso, não é tão simples assim e pelas caras que fizeram, acho que não entenderam... Querem saber de uma coisa, vamos deixar isso para lá e voltemos ao meu desejo para hoje, que nem é mais hoje...

Então, meu desejo era escrever e já havia até pensado em inúmeras coisas sobre o que desejava escrever. Primeiro desejei escrever uma homenagem aos meus queridos professores, depois um texto sobre aquele amigo que nunca mais apareceu e, por fim, sobre o que se passa em meu coração.

Contudo, o hoje, dia do meu desejo, já chegou ao fim faz trinta e cinco minutos e ainda não fui capaz de escrever uma linha sequer para nenhuma das coisas que relacionei acima. Isso me deixa imensamente angustiada, pois meus queridos professores não ficarão sabendo o quanto os estimo, meu amigo não saberá o quanto sinto sua falta e o meu coração continuará apertado, porque não consegui expressar, colocar para fora, aquilo que me incomoda.

E hoje, o amanhã do meu hoje, apesar de ter desejado escrever sobre tudo isto, desisto de escrever, inclusive este texto.
Quem sabe, termine-o amanhã, um amanhã que já é hoje....



Danielly Ziroldo
*imagem por Dany Z.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

APENAS, ABRA A JANELA


Abra a janela,
Admire a simplicidade
Do movimento do vento
No leve tocar das folhas.

Não sinta inveja
Da criança em ingenuidade
Livre no tempo
Vivendo o que sonha.

Abra a janela,
Derrube essas grades
Renuncie ao medo
E acredite na paz

Confesso não haver segredos
Receitas, nem magias
Que lhe confie alguma segurança...

Apenas, abra a janela.

Danielly Ziroldo
* imagem por Dany Z.

domingo, 12 de outubro de 2008

A PENETRA

Cecilia bem que desejou não aceitar o convite. Disse não na primeira vez, disse não na segunda, mas temos que concordar que dizer não pela terceira vez era demais, até mesmo para ela.

E assim, não querendo ir e adivinhando que ao chegar lá, aqueles que fizeram o convite para uma festa que nem lhes pertenciam, encontrariam seus amigos e a deixariam ali, se sentindo a pior pessoa do mundo e jurando para si mesma que nunca mais aceitaria convite nenhum (exceto se este viesse do dono da festa e com o qual tivesse um bom laço de amizade), foi ao churrasco.

Por todo o caminho, esfregou as mãos, mordeu os lábios e quando chegaram, precisou respirar fundo para descer do carro. Ao longe, pôde ver rostos conhecidos, um ou outro desconhecido, mas nenhum amigo, ninguém de quem pudesse se aproximar, abraçar e dizer: “Que bom te encontrar por aqui!”.

O que se passou depois, já sabem. Enquanto tentava sorrir e se mostrar a vontade, seus pensamentos lhe feriam como lâminas. O refrigerante, que aceitou depois de oferecerem-lhe insistentemente, desceu por sua garganta como fogo. Perguntava para si mesma como poderia ter sido tão burra a ponto de aceitar aquele convite. Se ao menos o carro lhe pertencesse e soubesse dirigir, poderia inventar uma dor de cabeça e ir embora.

As músicas sertanejas e gauchescas, das quais tinha verdadeiro horror, corriam no mais alto volume pelo salão, algumas pessoas dançavam, outras apenas conversavam e riam. Cecilia permanecia encostada na parede, com o copo quase vazio na mão, balançando positivamente a cabeça sempre que se dirigiam a ela.

Sua agonia se agravava a cada vez que uma das convidadas da festa se esforçava ao máximo para que ela, que desempenhava o pior papel de penetra já existente, se sentisse a vontade. Aquela mulher mal lhe conhecia, mas fazia questão de tratar-lhe com muita simpatia e carinho, e este tratamento fazia com que se sentisse culpada por não conseguir retribuir aquele esforço de transformá-la em uma convidada desejada. Sentia-se culpada por descobrir que o problema não estava nas outras pessoas, mas sim, nela.

Tentou uma aproximação, precisava ser mais sociável. Sentou-se próxima à mulher que lhe fora tão receptiva e pensou em puxar conversa. Mas sobre o que falaria? Ela que era uma péssima falante, que sabia falar apenas de escola, estudos, uma ou outra coisa de literatura, livros ou futebol, sobre o que falaria? Todos estes temas pareciam estar muito distante dos interesses daquela que a tratava tão bem e para não se tornar inconveniente, não ousou dizer palavra alguma.

De longe, um homem a observava e ela fingia não ver aqueles olhos cheios de interesse. Chegou a pressentir a intenção dele de convidá-la para uma dança, contudo, para evitar a situação constrangedora de ter que responder ao convite, levantou-se e foi se refugiar no banheiro feminino...

Apesar de não ser mais inverno, a noite, de repente, tornou-se gelada. Os convidados, um a um, sentiram a necessidade de voltar para casa se proteger do frio que não esperavam. O dono da festa encarregou-se de apagar a churrasqueira, silenciar as músicas e desligar as luzes.
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Danielly Ziroldo

sábado, 11 de outubro de 2008

POR DORMIR NO PONTO


Quando entramos em um ônibus e o nosso destino não for a última parada da linha, “dormir no ponto” pode ser um grande problema, tendo como conseqüência alguns contratempos, como ter que andar mais do que seria necessário para chegar à sua casa ou qualquer lugar aonde esteja indo, ou, até mesmo, ir parar em algum fim de mundo perdido por aí.

“Dormir no ponto” pode, também, ser uma situação um tanto que constrangedora, principalmente, se as pessoas ao redor perceberem esta nossa pequena distração. Não me recordo de já ter acontecido isso comigo outras vezes, no entanto, como dizem por aí, sempre tem a nossa primeira vez e a minha, foi hoje.

Estava voltando para casa da cidade vizinha, onde estudo, ouvindo as músicas do Teatro Mágico e pensando na vida e nas milhares de coisas que tenho para fazer e tudo em tão pouco tempo. Ao entrar na minha pequena/grande cidade, deveria descer no segundo ponto e pensava nisto quando paramos no primeiro. Neste momento, eu ainda estava acordada, dei passagem para o menino que estava do meu lado e disse para mim mesma que esperaria mais alguns minutos para puxar a cordinha de solicitação de parada. Acho que depois deste pensar, dormi, aquele dormir de olhos abertos, e quando me dei conta, o ônibus já havia parado no meu ponto e estava fechando suas portas e seguindo para o próximo.

Consciente da minha pequena distração, levantei-me num susto só. Com certeza, as pessoas que estavam por perto ficaram se perguntando se eu iria descer ali, percebi que até o motorista olhou para mim através do retrovisor, o que me dava uma oportunidade de dar um grito pedindo para que ele parasse, contudo, eu, com toda esta timidez, disfarcei na hora e todos aqueles que, provavelmente, me olharam (não sei se me olharam de verdade, porque não olhei para eles) ficaram apenas na dúvida se eu desceria ou não.

Dei alguns passos para frente e me sentei em outro banco. Para não confessar a todos os presentes que, realmente, eu havia “dormido no ponto”, fiz questão de não descer na parada seguinte e fui descer somente na rodoviária.

Dei-me como desculpa, para a parada na rodoviária, a necessidade de comprar um rolo de fitilho, o qual já havia desistido de comprar por não saber se vou usar. E quase que minha desculpa vai por água abaixo! Quase que não encontro o bendito fitilho. Em uma loja não havia e na outra, por sorte, a moça encontrou os dois últimos rolos.

Comprado o fitilho, que ainda nem sei se vou usar, preparei os pés e as canelas e tomei o rumo de casa, mas está tudo bem, eu gosto mesmo de andar...

Ter “dormido no ponto” ruborizou minhas faces e me deixou constrangida, entretanto, serviu para alguma coisa.

Primeiro, fez com que eu escrevesse uma crônica e segundo, talvez o mais importante, me fez refletir sobre algumas coisas, me fez refletir sobre este “dormir no ponto”, mas não sobre este que aconteceu comigo hoje. Na verdade, me fez refletir sobre as diversas vezes em que “dormimos no ponto” em nossas vidas.

Não sei se já pararam para pensar a respeito, o fato é que, durante toda esta nossa caminhada pela vida, construímos sonhos, traçamos metas e destinos, no entanto, às vezes, estamos com a cabeça tão perdida pelo mundo da lua, que nem percebemos que logo ali havia um ponto aonde deveríamos e gostaríamos de parar e, por isso, passamos por ele. Esta nossa distração pode nos custar caro, como ter que fazer um longo caminho de volta, com a dúvida de sermos capaz de encontrar no mesmo lugar o nosso ponto de parada.

A mesma coisa acontece com as oportunidades, se “dormimos no ponto” elas passam e nem nos atentamos para elas e se um dia chegamos a perceber, já é tarde demais, pois outra pessoa deve ter se aproveitado desta nossa pequena distração.

Pensando em tudo isso, percebi que vivo “dormindo no ponto” e, sabem, foi até bom o que me aconteceu hoje... Me fez ficar mais esperta....


Danielly Ziroldo



quarta-feira, 8 de outubro de 2008

TENTANDO PUXAR CONVERSA


Não sei ao certo de onde aquela menina me conhece e apesar de eu não saber seu nome, ela sabe o meu, fazendo questão de me cumprimentar todas as vezes que passo por aquela rua. Sempre tenho a impressão de que ficaremos apenas com o dizer de “ois”, no entanto, a menina sempre se volta para mim e aborda-me com a mesma pergunta...


Não penso que ela repete a pergunta por ter esquecido a resposta, penso que, talvez, esta foi a maneira que encontrou para puxar conversa. E como ela me puxa para a conversa, eu me esforço em ir e permanecer. Respondo as simples e apenas curiosas perguntas e, em contrapartida, pergunto outras simples e também apenas curiosas perguntas, a fim de tentar estabelecer o diálogo.


Às vezes, detenho-me para estas nossas ligeiras conversas, outras vezes, ela me acompanha por alguns metros, contudo, da mesma maneira inesperada com que me aborda, a menina interrompe a conversa, se despede e vira a esquina ou, simplesmente, volta para suas brincadeiras.


Depois, sigo meu caminho, sempre pensando, ou melhor, imaginando: “Qual o querer da menina?"


Para ser sincera, não sei se há algum querer, que não seja apenas o querer de desejar trocar algumas palavras com quem passa pela rua e se eu passo por ali, então, por que não puxar conversa comigo?


Danielly Ziroldo


INVERSO DO CERTO


Se fecho os olhos ao inverso do certo, o que é inverso me inverte, num jogo em que os inversos de tanto que se invertem, não nos permite mais discernir o que é certo ou apenas inverso.
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Danielly Ziroldo

domingo, 5 de outubro de 2008

SE DENTRO DE MIM...



Se dentro de mim
Sou apenas uma menina indefesa
Como querer enfrentar o mundo
Como uma mulher grande e forte?
Se dentro de mim
Sou apenas a covardia
Como querer tornar-me heroína
De qualquer história, mesmo que inventada?
Se dentro de mim
Sou apenas uma alma solitária e egoísta
Como querer buscar a companhia
Daqueles que se esquecem de si em prol do outro?
Se dentro de mim
Sou apenas um mar de medos
Como querer abraçar qualquer causa?
Como querer entregar-me ao amor?
Como querer deixar de ser apenas eu?

Dany Ziroldo

Segunda-feira, 29 de setembro de 2008.

Poesia Online - Recanto das Letras
Mote: “A única revolução possível é dentro de nós” (Gandhi)


SILENCIAR



Não tenho medo da chuva,
Não tenho medo do barulho dos trovões,
Muito menos dos raios que cortam o céu.

Mas tenho medo deste silêncio
Imposto às cordas do meu violão
Neste dia de forte tempestade.

Não tenho medo do vendaval,
Desejo que o vento me leve consigo
Quem sabe assim, finalmente eu encontre:

Os acordes por minha memória esquecidos...



Dany Ziroldo

sábado, 4 de outubro de 2008

CALAR-SE


Calar-se é uma forma de não correr riscos, calar-se é uma forma de tentar se proteger, por isso, tento me calar.

Tento, mas as palavras acabam saindo sorrateiras por minha boca e quando percebo já foram ditas e uma vez ditas, torno-me vulnerável e se antes tentava esconder que estava com medo, agora já não posso mais.

Quando as palavras me escapam sorrateiras, dizem o que pensam e o que eu penso, abrindo uma fresta que se enche de arrependimento para tentar encobri-la, no entanto, o arrependimento é invisível e ninguém o enxerga, quando olham por esta fresta, enxergam apenas a mim e tudo mais que tento esconder.

Calar-se é uma forma de deixar de dizer o que não penso, um não pensar que é dito por medo, por acomodação ou por forças das circunstâncias. Este falar sem pensar camufla as frestas abertas, entretanto, apenas aumenta minha culpa.

Queria somente me calar e não precisar mais dizer, assim não sentiria culpa por ter dito sim quando deveria ter dito não ou vice versa. Queria somente me calar para não ter que dizer não depois de já ter dito sim e por esta razão, sentir um arrependimento sem motivo, um arrependimento por ter dito o que pensava, o que sentia.

Queria somente me calar, contudo tenho consciência de que isto que tento fazer remédio pode transformar-se em veneno, aumentando este sentir que me assola, em vez de aliviá-lo... Por ter esta consciência, às vezes, digo, mas digo baixinho, assim quase ninguém ouve e quem ouve não entende...

Danielly Ziroldo
* imagem pesquisada em : http://creativecommons.org.br/

O SEGREDO DO MEU IRMÃO MAIS VELHO II



Contei-lhes, outro dia, que meu irmão mais velho tinha um segredo e disse que contaria este segredo apenas para vocês e não espalharia para a cidade inteira, mesmo ele merecendo. O fato, é que nem foi preciso que eu dissesse nada. A cara de bobo (coisas de quem está apaixonado) que ele tem andado ultimamente, o dedurou.

Fiquei até com pena do meu irmão mais velho, lá no serviço ele tem sentido na pele o que já senti (ufa! por uns minutos esqueceram-se de mim...), quer dizer, ele tem sentido um pouquinho mais, afinal, quando um homem se vê no meio de um monte de mulheres, pode saber que não escapará de suas línguas...

E já que todo mundo está sabendo que ele está apaixonado, por que não contar mais uma ou duas coisinhas sobre meu irmão mais velho?

Este meu irmão mais velho, que nem é mais velho do que eu e muito menos nasceu da mesma barriga da qual eu nasci, diz ter um pequeno problema com mulheres: não consegue ficar apenas com uma! Quando me disse isso, quis pegar-lhe pelas orelhas e disse-lhe que isso já era sem-vergonhice. Tentou se defender por horas, disse-me que isso era mais forte do que ele e coisa tal. (Maninho, me poupe, né?)

Na verdade, penso que esta história de não conseguir ficar somente com uma mulher é apenas uma desculpa para quem nunca se apaixonou de verdade, no entanto, agora meu irmão mais velho se apaixonou e vive vinte e quatro horas por dia pensando nela. Ela, que até semana passada, era apenas sua amiga, com quem estava junto sempre e ele nunca havia pensando, mesmo todo mundo insinuando, que poderia ser mais do que uma amiga. Ela, que teve coragem de dizer ao meu irmão mais velho, quando ele tentava juntá-la com um outro amigo, de que era dele de quem ela gostava (aplausos à sua coragem, cunhadinha. Cunhadinha? Claro! A namorada do meu irmão mais velho só pode ser minha cunhada, não é assim?). É nela que meu maninho vive pensando...

Por acaso já conhecem essa história de amizade virar namoro? Penso que sim, pois esta não foi a primeira e nem será a última, mas precisava lhes dizer, porque esta história é tão bonitinha... (suspiros...)






Agora maninho, faz favor de tomar jeito e deixar isto “que é mais forte do que você” de lado, ouviu?




Danielly Ziroldo

O SEGREDO DO MEU IRMÃO MAIS VELHO


Durante os últimos nove anos, fui ganhando, aos poucos, um irmão mais velho, quem, por causa de um mês, nem é mais velho do que eu e muito menos nasceu da mesma barriga da qual eu nasci.

Como entre irmãos sempre há conflitos e desavenças, entre este meu irmão mais velho e eu, não poderia ser diferente. E a razão é toda minha, é claro!

Este irmão mais velho, que fui ganhando aos poucos, adora me dedurar no trabalho. Quando comecei a namorar, em uma conversa um tanto que descontraída, ele, “sem querer” (tem certeza que quer que eu acredite nisso?), abriu a boca. Não que o namoro fosse segredo de estado, mas, para mim, é um tanto constrangedor ter que ouvir um monte de mulheres fazendo milhares de perguntas sobre a história do namoro, o namorado, enfim, sobre tudo. (Até hoje vivem jogando na minha cara que se não fosse o meu irmão mais velho, elas nunca ficariam sabendo do namoro. Será? Ei maninho, por que você tinha que contar?)

O caso do namoro foi perdoado, entretanto, sobre o caso da aliança, tenho certeza que ele fez de propósito. Nem lhe disse nada (se dissesse, sabia que ele iria contar) e nem foi preciso, jogou verde e colheu maduro (Por que será que tenho que ser sempre tão bobinha?!) e desta vez o turbilhão de perguntas curiosas foram a respeito de toda a história que cercava a aliança que ganhei... E o pior de tudo, é que este meu irmão mais velho ainda me entrega para meu namorado, contando-lhe todas as vezes em que deixo de usar a aliança! (Já está decidido! Sábado estarei na academia para começar as aulas de Karate e te aconselho a não ficar muito perto de mim nos treinos, ouviu?)

O mais engraçado nesta relação entre meu irmão e eu, é que ele usa o poder que a palavra “mais velho” lhe concede, mesmo sem o ser, para espalhar ao mundo tudo sobre mim (até aquilo que não lhe conto) e, em contrapartida, não me conta nada dos seus segredos (acho que ele tem medo de me tornar vingativa).

E como ele não me diz nada, fico cutucando, cutucando e não é que deu certo! Hoje descobri um segredo dele! Através de tanta cutucação e observação de suas atitudes, descobri o que ele vinha tentando esconder faz algum tempo. E como ele soube que eu já sabia, não teve como me esconder mais, a solução foi me confessar.

Sua sorte maninho, é que não sou “boca aberta” (como certa pessoa que eu conheço), e, por isso, não vou sair pela cidade contando este seu segredo.

Contento-me em contar apenas para o pessoal aqui do blog...

*

Ei, pessoal, venham aqui bem pertinho... Vou falar baixinho, pra ele não ficar muito constrangido, ok?

Sabem o que é... Adivinhem!


Ele está apaixonado...

*

Pronto! Falei. E o que tá falado, tá falado e não tem mais como “desfalar”...


Não lhe disse que falaria?




Danielly Ziroldo