sexta-feira, 14 de agosto de 2009

FACES DAS PALAVRAS



Houve uma época em que me deixava convencer facilmente por palavras bonitas. Bonitas em sua superficialidade, pois se analisadas bem de perto, possivelmente, encontraria nelas faces de adjetivos obscuros como o sarcasmo e a falsidade.

Naquele tempo ainda não possuía o conhecimento suficiente para distinguir sentimentos sinceros expressos em palavras de palavras vazias, estas últimas escritas com o único objetivo de manipular seu interlocutor com a falsa ideia de que elas expressam afeição e uma preocupação desinteressada.

Não posso afirmar que hoje já sou capaz de separar estas duas qualidades de palavras: verdadeiras e falsas, até porque preciso reconhecer que há habilidosos artífices neste ofício de manusear as palavras e fazem tão bem seu trabalho, que só com muita perspicácia é possível reconhecer a verdadeira intenção das letras escritas ou ditas. É importante ressaltar que, às vezes, isso é praticamente impossível e talvez somente duas coisas possam denunciar a verdade: olhos nos olhos ou um deslize, geralmente percebido nas contradições entre palavras e palavras ou entre ações e palavras.

Como quase tudo, querer desvendar a correta face das palavras, principalmente das mais belas e lapidadas com cuidado, é demasiadamente complicado. Por isso, agora, que não sou mais tão ingênua, mas que também não sou tão esperta, valho-me da desconfiança.

Não digo que desconfie de tudo e de todos, entretanto, procuro me proteger de ardilosos enganadores que tentam, incansavelmente, me convencer de suas ideias em detrimento das minhas; que tentam me convencer da indispensabilidade de seus produtos para a continuidade da vida; ou de suas louváveis e heróicas intenções enquanto políticos. Que tentam me convencer que levam em consideração minhas necessidades, mas que agem apenas em prol de seus interesses; ou me enfiam garganta abaixo uma visão distorcida das histórias, visão que vai de acordo, unicamente, com o interesse de quem as contam.

Cansei-me deste uso indevido das palavras! Cansei de permanecer calada enquanto brincavam de me convencer de coisas que não acredito, que não preciso e que não são verdade.

Neste momento, penso que só há uma coisa a ser feita: utilizar-me das mesmas armas – as palavras – para combatê-los.
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Dany Ziroldo