Houve uma época em que me deixava convencer facilmente por palavras bonitas. Bonitas em sua superficialidade, pois se analisadas bem de perto, possivelmente, encontraria nelas faces de adjetivos obscuros como o sarcasmo e a falsidade.
Naquele tempo ainda não possuía o conhecimento suficiente para distinguir sentimentos sinceros expressos em palavras de palavras vazias, estas últimas escritas com o único objetivo de manipular seu interlocutor com a falsa ideia de que elas expressam afeição e uma preocupação desinteressada.
Não posso afirmar que hoje já sou capaz de separar estas duas qualidades de palavras: verdadeiras e falsas, até porque preciso reconhecer que há habilidosos artífices neste ofício de manusear as palavras e fazem tão bem seu trabalho, que só com muita perspicácia é possível reconhecer a verdadeira intenção das letras escritas ou ditas. É importante ressaltar que, às vezes, isso é praticamente impossível e talvez somente duas coisas possam denunciar a verdade: olhos nos olhos ou um deslize, geralmente percebido nas contradições entre palavras e palavras ou entre ações e palavras.
Como quase tudo, querer desvendar a correta face das palavras, principalmente das mais belas e lapidadas com cuidado, é demasiadamente complicado. Por isso, agora, que não sou mais tão ingênua, mas que também não sou tão esperta, valho-me da desconfiança.
Não digo que desconfie de tudo e de todos, entretanto, procuro me proteger de ardilosos enganadores que tentam, incansavelmente, me convencer de suas ideias em detrimento das minhas; que tentam me convencer da indispensabilidade de seus produtos para a continuidade da vida; ou de suas louváveis e heróicas intenções enquanto políticos. Que tentam me convencer que levam em consideração minhas necessidades, mas que agem apenas em prol de seus interesses; ou me enfiam garganta abaixo uma visão distorcida das histórias, visão que vai de acordo, unicamente, com o interesse de quem as contam.
Cansei-me deste uso indevido das palavras! Cansei de permanecer calada enquanto brincavam de me convencer de coisas que não acredito, que não preciso e que não são verdade.
Neste momento, penso que só há uma coisa a ser feita: utilizar-me das mesmas armas – as palavras – para combatê-los.
.
Dany Ziroldo