quinta-feira, 24 de setembro de 2009

NOS ACRÉSCIMOS



Dois minutos e meio. Qual a possibilidade de um time levar um gol faltando dois minutos e meio para acabar o jogo? – lembro de uma vez, na época em que jogava futsal, que levamos um gol faltando oito segundos para o término da partida. Não perdemos o jogo, mas aquele empate de última hora, ou melhor, de últimos segundos, com certeza, nos tirou da próxima fase do campeonato.

Um minuto e meio. Por que ninguém tira essa bola de dentro da área? Querem me matar do coração? Não deixem ele chutar. Não, não, não... Ufaaaaa! Pra fora... – quando a bola entrou no gol, olhei para o banco de reservas. Nosso treinador estava desolado. Com as mãos na cabeça ele nos dizia ou gritava, sei lá, que faltavam apenas oito segundos, oito segundos. E o que são oito segundos?

Um minuto. Acaba logo esse jogo! Não acredito que ainda não tiraram essa bola do campo de defesa. Será que estão querendo levar um gol e perder a vitória no último minuto? – depois do gol tomado com oito segundos para o fim do jogo, não houve tempo para uma reação. O tempo que parecia eterno enquanto defendíamos, se consumiu voraz e imediatamente quando colocamos a bola no meio da quadra para reiniciar a partida ou encerrá-la.

Trinta segundos. Esse cronômetro deve estar com problemas. Como assim, ainda faltam trinta segundos!? – tocamos a bola de lado e antes mesmo de termos tempo de dar mais um chute, ouvimos o apito. Era o fim. Tudo estava perdido e só faltavam oito segundos quando a bola entrou.

Oito segundos. Se o árbitro não acabar esse jogo agora, juro que invado o campo e eu mesma darei o apito final. Ah, não! Vocês deixaram o cara cruzar pra dentro da área. Alguém tira essa bola daí, por favor. Só faltam oito segundos. Vocês sabem o que é isso, oito segundos? No futsal oito segundos pode ser uma eternidade, mas vocês não estão numa quadra. Vai. Tira, tira, tira. Alguém tira essa bola daí...

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Dany Ziroldo

domingo, 20 de setembro de 2009

SECRETO MUNDO



Olhei-me
através de uma lente de aumento
e descobri com surpresa
que o mundo que invento
se desfaz lentamente
sem o meu consentimento.

Quem abriu a janela
e permitiu a entrada do vento
neste meu mundo secreto
de confuso entendimento?

Feche-a,
pois este sopro lento
leva um pouco a cada dia
todo o meu alento.

Feche-a,
que fica só o sofrimento
enquanto vai a alegria
carregada pelo vento...

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Dany Ziroldo

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*Imagem por Dany Ziroldo.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

FACES DAS PALAVRAS



Houve uma época em que me deixava convencer facilmente por palavras bonitas. Bonitas em sua superficialidade, pois se analisadas bem de perto, possivelmente, encontraria nelas faces de adjetivos obscuros como o sarcasmo e a falsidade.

Naquele tempo ainda não possuía o conhecimento suficiente para distinguir sentimentos sinceros expressos em palavras de palavras vazias, estas últimas escritas com o único objetivo de manipular seu interlocutor com a falsa ideia de que elas expressam afeição e uma preocupação desinteressada.

Não posso afirmar que hoje já sou capaz de separar estas duas qualidades de palavras: verdadeiras e falsas, até porque preciso reconhecer que há habilidosos artífices neste ofício de manusear as palavras e fazem tão bem seu trabalho, que só com muita perspicácia é possível reconhecer a verdadeira intenção das letras escritas ou ditas. É importante ressaltar que, às vezes, isso é praticamente impossível e talvez somente duas coisas possam denunciar a verdade: olhos nos olhos ou um deslize, geralmente percebido nas contradições entre palavras e palavras ou entre ações e palavras.

Como quase tudo, querer desvendar a correta face das palavras, principalmente das mais belas e lapidadas com cuidado, é demasiadamente complicado. Por isso, agora, que não sou mais tão ingênua, mas que também não sou tão esperta, valho-me da desconfiança.

Não digo que desconfie de tudo e de todos, entretanto, procuro me proteger de ardilosos enganadores que tentam, incansavelmente, me convencer de suas ideias em detrimento das minhas; que tentam me convencer da indispensabilidade de seus produtos para a continuidade da vida; ou de suas louváveis e heróicas intenções enquanto políticos. Que tentam me convencer que levam em consideração minhas necessidades, mas que agem apenas em prol de seus interesses; ou me enfiam garganta abaixo uma visão distorcida das histórias, visão que vai de acordo, unicamente, com o interesse de quem as contam.

Cansei-me deste uso indevido das palavras! Cansei de permanecer calada enquanto brincavam de me convencer de coisas que não acredito, que não preciso e que não são verdade.

Neste momento, penso que só há uma coisa a ser feita: utilizar-me das mesmas armas – as palavras – para combatê-los.
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Dany Ziroldo

segunda-feira, 29 de junho de 2009

ARTE PARA TODOS

texto de DANILA CALDERON¹


“Pode-se viver no mundo uma vida magnífica quando se sabe trabalhar e amar; trabalhar pelo que se ama e amar aquilo em que se trabalha.” (Nise da Silveira)

Não sei se já aprendi trabalhar. Sei apenas que, dia após dia, sigo trabalhando e muito. Amo o que faço, apesar de que, às vezes, percebo que não tenho tempo para mais nada. Não tenho mais tempo para refletir sobre tudo o que está acontecendo, nem para oferecer a devida atenção àqueles que me cercam.

Por vezes, entro em conflito comigo mesma, pois são tantas as barreiras impostas pelo sistema, tantas divisões, áreas, movimentos, períodos, tantos tipos de conteúdos: estruturante, básico e específico. Chego a pensar que se for necessário levar em consideração todos estes detalhes para que a arte seja produzida, dificilmente ela se tornará produto de todos os cidadãos comuns do mundo. Será exclusividade de uma mínima parcela de “gênios” da sociedade.

Sempre pensei que arte é para todos, produtos de todos e não se deve permitir que uma minoria se aproprie dela.

Todo ser humano expressa em tudo que faz sentimentos profundos que na maior parte do tempo nem sabe que existe dentro de si.

Arte é a expressão da alma, do mais profundo do ser, é essência.

Há um ditado que diz: “a boca só fala do que o coração está cheio".

Boca, coração, mão e corpo estão completamente ligados à expressão. Expressou? Virou Arte!

E se falando em artes visuais, a mão só expressa o que o coração está cheio, é importante ter consciência do que estamos enchendo nosso coração.

Nesta passagem aqui pelo mundo é interessante ser alguém útil, trabalhar, contribuir para o bem comum da natureza e todos que nele habitam, mesmo que tudo o que fizermos não seja reconhecido por este sistema estabelecido por meros humanos.

No andar de cima tem alguém que nos reconhece no mais profundíssimo.

A vida é um esforço constante e vale a pena.

Lute, trabalhe, viva intensamente!

Mesmo que não seja reconhecido pelos homens, tenha a certeza de que um ser superior vê todos os nossos passos e reconhecerá todos os nossos esforços.
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¹ Danila Calderon é artista plástica e professora de artes.

domingo, 21 de junho de 2009

A FORÇA DO MÊS DE NASCIMENTO

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Hoje, um pouco mais de vinte e dois anos após meu nascimento, descobri, enfim, porque não me tornei uma atleta.

Fico me perguntando: por que não tive conhecimento disso antes? Afinal, poderia ter tirado das minhas costas, muito mais cedo, a culpa de nunca ter obtido sucesso na carreira futebolística, entretanto, só agora descubro que tudo é uma questão de data de nascimento.

Simples assim. A data de nascimento.

Bem... é isso o que dizem as pesquisas e se as pesquisas dizem, quem sou eu para afirmar o contrário? Desta forma, eximo-me de toda a culpa, pois qual é a minha culpa em não ter nascido nos três primeiros meses do ano? Nenhuma.

E se ter nascido em outubro me condenou a não ser atleta, será que ajuda a me tornar escritora?

Sinceramente, não sei. Contudo, penso que deveriam realizar uma pesquisa sobre as datas de nascimento dos escritores e verificar se nascer nos três últimos meses do ano pode ser considerado uma vantagem...
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Enquanto o resultado da pesquisa não sai, permaneço por aqui, pensando, pensando e me perguntando (com uma pontinha de esperança): SERÁ???
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Dany Ziroldo

quarta-feira, 13 de maio de 2009

SÃO MARCOS ESTÁ DE VOLTA


A noite de ontem foi do Palmeiras, ou melhor, a noite de ontem foi do Marcos, o goleiro do Verdão apelidado de São Marcos.

Sei que posso estar um pouco atrasada com a notícia, considerando a velocidade com que a informação é difundida, no entanto, penso não haver tempo que mensure a validade da emoção sentida por milhares de palmeirenses ao ver no estádio ou apenas através da internet, rádio ou televisão o grande feito deste goleiro que já faz parte da história do futebol brasileiro.

É verdade que ele andou em uma fase de contusões e quando isso acontece com um atleta, infelizmente, ele começa a ficar desacreditado e tudo o que já construiu em sua carreira parece não ter muito valor.

Contudo, ontem, Marcos reafirmou seu talento e como outros atletas já fizeram, mostrou ao Brasil e ao mundo que ainda tem condições de defender as cores do seu time e mesmo afirmando que talvez a Seleção Brasileira não seja mais para ele, ainda acredito que ele é talentoso o suficiente para defender a camisa do nosso país.

Afinal, não é qualquer goleiro que, durante uma partida, é capaz de fazer tantas grandes defesas e ainda por cima, defender três pênaltis, garantindo a classificação do Palmeiras para a próxima fase da Copa Libertadores da América.
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Dany Ziroldo

segunda-feira, 11 de maio de 2009

PARA ONDE VÃO AS CANETAS?


É curioso o que acontece com as canetas onde trabalho, elas simplesmente desaparecem. Estava até pensando em contratar um detetive particular ou, quem sabe, me transformar em uma, para tentar desvendar este mistério.

Chega a ser até engraçado, um engraçado que, às vezes, irrita, pois em um minuto se tem um monte de canetas, no outro já não existe mais nenhuma - e isso acontece principalmente nos momentos em que mais se precisa de uma.

É incrível como as canetas tomam chá de sumiço e nunca mais aparecem e ninguém pode culpar nenhuma das colegas mais próximas, porque ninguém ali nunca tem canetas sobrando para emprestar e ninguém está livre de ser uma vítima. É quase óbvio que um ladrão de canetas teria uma coleção delas, não concordam?

Com tantos desaparecimentos, resolvi colocar nome em cada caneta que adquiro, no entanto, nem assim consigo possuí-las por muito tempo. Evidentemente ficam comigo por mais tempo, pois sempre que vejo passeando na mão de alguém, não desgrudo o olho enquanto ela não retorna para as minhas, mas, ainda assim, não escapo das mãos ligeiras, ávidas por canetas alheias. Sexta-feira passada, por exemplo, tinha três canetas azuis e uma vermelha sob minha propriedade, hoje de manhã, depois de muito procurar, consegui encontrar apenas uma e deu o maior trabalho para encontrar as outras três e escondê-las bem no fundo da minha gaveta para a segurança das mesmas e a minha, é claro. Não quero correr o risco de chegar amanhã cedo para trabalhar e não encontrar mais nenhuma delas.

Já tentamos de tudo, até amarrar a caneta no balcão. Nem isso resolveu, alguns dias depois, sempre encontrávamos apenas o cordão. Nenhum vestígio da caneta.

Por isso, começamos a nos perguntar: para onde será que vão as canetas?

Já perdemos as contas de quantas canetas nos pertenceram nestes três anos de trabalho. Elas evaporam e o mais intrigante, é que nunca mais são encontradas. Algumas imaginações férteis cogitaram a possibilidade de que alguém esconda no fundo do quintal um cofre como o do Tio Patinhas, mas que ao invés de haver ouro e dinheiro, haveria canetas, as nossas canetas...

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Dany Ziroldo

sábado, 2 de maio de 2009

NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS


Há certas formas de contato interpessoal que nunca deveriam ser alteradas.

Se há perfeição na distância, mantenhamo-nas! Pois é a distância que traz esta perfeição.

Se há perfeição na proximidade, nunca nos separemos! Pois não suportaríamos a saudade.

Se há perfeição na amizade, sejamos amigos eternamente! Pois transformá-la em amor poderá significar o fim, primeiro da amizade e depois do amor.

Não pense que sou pessimista ou avessa a mudanças. Quero apenas preservar esta perfeição entre nós. Pois foi nesta ânsia de mudar, de querer acrescentar um toque a mais na dita perfeição, que ela, muitas vezes, deixou de ser perfeita e para sempre.
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Dany Ziroldo

terça-feira, 14 de abril de 2009

PORRADA!


- BRIGAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!

De repente um turbilhão de crianças sai em disparada. Todos correndo em direção ao som do grito que ligeiramente era espalhado de boca em boca.

Os desavisados eram engolidos pelo turbilhão e quando se davam conta já estavam correndo também. Correndo para onde? Para onde todos estavam correndo. Não importava muito o destino, o que realmente importava era a ação de correr, correr e chegar o mais rápido possível para ver a briga.

Corriam e gritavam: - Briga! Briga! Briga!

Outros retrucavam: - Onde? Onde? Cadê a briga?

E continuavam correndo e continuavam gritando.

De súbito, o pelotão de frente para. Os que vinham atrás, não conseguindo frear a tempo, esbarram no outro grupo. Com o esbarrão, aquele que havia dado a ordem de parada se desequilibra e cai de boca no chão.
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Após um instante de silêncio, levantou-se, limpou a terra que quase engolira, sentiu o gosto de sangue do pequeno corte em sua boca e com uma ponta de raiva no olhar, aproximou-se do responsável pelo tombo público. Encarou-o com toda valentia que um menino consegue ter e com o punho cerrado deferiu no rosto assustado do seu inimigo o soco mais forte que poderia dar.

Rapidamente, todo aquele turbilhão de crianças fechava um círculo em volta dos dois mais novos lutadores da escola. Entre socos e pontapés a platéia soltava urros de empolgação e para incentivar gritavam:

- Porrada! Porrada! Porrada! Porrada! Porrada...

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Do outro lado do pátio, alguém gritava:

- BRIGAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!

Um novo pelotão de pernas velozes se forma. Aqueles que haviam resistido à primeira chamada, agora se veem hipnotizados pelo grito daquela palavra irresistível, a qual, misteriosamente, transporta corpos de um lugar para outro em questão de minutos.
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Dany Ziroldo

sexta-feira, 3 de abril de 2009

PRÊMIO INSPIRAR-POESIA



Hoje, com grande alegria, venho aqui para agradecer a Mai, do blog Inspirar-poesia, pelo "Prêmio Inspirar-Poesia", que tão gentil e carinhosamente, me foi oferecido.
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Isto, com certeza, surge como forma de incentivo para que eu continue me aventurando pelo mundo da escrita, sempre buscando me aprimorar mais e mais.
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Mai, muito obrigada.
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Ps.: Para aqueles que ainda não conhecem o blog da Mai <http://inspirar-poesia.blogspot.com/>, confiram, pois ela escreve de forma encantadora...

sexta-feira, 27 de março de 2009

LEMBRA-SE DE MIM?



Quando ele se aproximou do balcão, o reconheci no mesmo instante. Com a camiseta rasgada, olhos avermelhados e com um rosto um tanto calejado para a idade, não se parecia mais com aquele menino atentado que vivia aprontando na escola e que, quando ainda estávamos no prezinho, foi meu par na valsa que já nem me lembro dos passos.
Levantei-me para atendê-lo esperando não ser reconhecida; no entanto, antes mesmo que pudesse lhe fornecer a informação solicitada, me lançou a pergunta:

- Dany, você lembra de mim?

Sim, eu me lembrava. Não sei exatamente por qual motivo, mas eu me lembrava. Deveria fazer mais de dez anos que não nos cruzávamos e mesmo assim eu me lembrava dele. Inclusive do seu nome.

- Lembro sim, Carlos. Como você está?

Estendeu-me a mão, sorriu e disse-me estar bem.
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Não ousei lhe perguntar o que andava fazendo ou como estava sua vida, pois sua aparência já denunciava como as coisas possivelmente se encaminharam. E depois, nunca houve laços de amizade entre nós. Provavelmente, o par da valsa foi escolha da professora e não nossa; afinal, não era dado o direito de escolha para crianças de cinco anos.
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E assim, educadamente, sem demonstrar nenhum outro sentimento, lhe forneci a informação desejada. Houve mais um aperto de mãos e algumas palavras de despedidas.
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Depois que ele desapareceu pude ouvir o comentário entre as outras pessoas da sala: “Que dó desse menino. Se perdeu no mundo, coitado”.
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Não sabia, ainda não sei, contudo, imaginei para quais direções a vida daquele menino atentado do passado havia seguido. Não deveria, mas também senti pena...
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Dany Ziroldo

domingo, 15 de março de 2009

CONFISSÕES



As palavras que acredito serem minhas,
Reconheço!
Todas, um dia, já foram ditas...

As dúvidas que penso serem exclusivas,
Admito!
Atormentam milhões de vidas...

As dores que imagino serem fatais,
Confesso!
Deixaram ilesos inúmeros mortais...
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Dany Ziroldo

quinta-feira, 12 de março de 2009

E SE FOR REALMENTE GRAVE?



Procuro não me indignar com os inúmeros absurdos que vejo ou escuto todos os dias; no entanto, hoje esta indignação se faz necessária, pois com a vida não se brinca.

Para assegurar os cuidados necessários para a garantia da vida humana, vários órgãos foram criados, mantidos por diferentes entidades e contando com o trabalho de diversos profissionais para atender as mais distintas situações.

Para situações de emergências, existe o Corpo de Bombeiros, Paramédicos, Defesa Civil, entre outras equipes com siglas variadas, mas todas com o mesmo objetivo.

Asseguro que em uma partida de futsal nunca se espera que algo de grave realmente aconteça, entretanto, uma destas equipes sempre permanece no local para uma eventual fatalidade, como a de hoje:

Depois de um choque entre dois atletas, um dos jogadores desmaia e por, aparentemente, haver gravidade no caso, todo o time e alguns amigos da arquibancada correm para socorrê-lo e gritam para que a "equipe" se faça presente.

(Começa aqui minha indignação e, acredito, a indignação de boa parte das pessoas que também estavam no ginásio esta noite.)

Solicitada por haver um atleta necessitando de atendimento, em vez do atendente descer a arquibancada com pelo menos um kit de primeiro socorros nas mãos e o mais rápido que pudesse realizá-lo, a cena que vimos foi totalmente oposta. Como se o tivessem chamado apenas para termos a graça de sua presença, ele desceu de mãos vazias e, o pior de tudo, contando os passos. Enquanto os meninos do time e amigos espectadores demonstravam preocupação, aquele que deveria oferecer socorro desfilava no meio da quadra.

Somente após alguns minutos, ele resolveu buscar uma maca, e, indo e voltando, com a mesma velocidade já descrita, foram merecidas as vaias atiradas pela torcida, inclusive por mim.

Agora, estou aqui escrevendo este texto, com a máxima indignação que me é permitido demonstrar, sem saber o real estado do rapaz e me perguntando: “Se alguém estivesse morrendo ali, deixariam que morresse com toda esta tranquilidade?”

Com a vida não se brinca! Não importa se o caso aparente ser grave ou não, um atendimento adequado e rápido é fundamental...
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Dany Ziroldo.

domingo, 8 de março de 2009

O QUE PRECISO DE TI...



Não preciso conhecer seu rosto
Pois tenho suas palavras
E isso me basta.

Não preciso sentir o toque de sua mão
Pois suas palavras me penetram
E tocam onde mão alguma alcançaria.

Nem preciso saber quem és de verdade
Pois é este que conheço que me faz falta
E não permite que meu coração se endureça de vez.

- O que preciso de ti, afinal? Apenas das suas palavras...

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Dany Ziroldo

quinta-feira, 5 de março de 2009

“VOU-ME EMBORA PRA ...”



Se eu soubesse onde fica Pasárgada, provavelmente, arrumaria minhas malas e me perderia por lá, no entanto, como minha razão insiste em me dizer que talvez este lugar nem exista, resolvi ir embora para outra parte, um pouco ainda mais distante...

Vou-me embora para a lua! Lá não deve ter reis e escravos, verdades e mentiras, amor e ódio, ganância e inveja, enfim, lá não deve ter outras pessoas com suas complicações mais do que complicadas...

Vou-me embora para a lua, porque já descobri o caminho... Será, pois, em uma noite de céu claro e repleto de estrelas, que arrumarei minhas malas, aprontarei meu foguete e me perderei pelo espaço até aterrissar em uma cratera lunar.

E se por acaso alguém aqui da Terra sentir minha falta, por favor, não mande me buscar...

Vou-me embora para a lua...


Obs.: Apenas para constar: este texto é, escandalosamente, inspirado no poema (ou pelo menos no título do poema) “Vou-me embora pra Pasárgada”, de Manuel Bandeira.
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Dany Ziroldo

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A PASSAGEM DO COMETA



Fico imaginando como Lisiel, a menina que roubava livros¹, descreveria o céu da noite de ontem. Talvez ela dissesse que havia uma manta negra sobre a cidade encobrindo a luz da lua e das estrelas. Talvez, fosse isto o que ela, ou eu apenas, diria.

O fato é que enquanto todos olhavam para o palco, eu olhava para o céu. Enquanto todos olhavam para os lados ou dançavam, eu olhava para o céu. Enquanto estava indo para casa, colocava a cabeça para fora do carro e olhava para o céu. E, finalmente, enquanto atravessava o portão, abria a porta, eu olhava para o céu.

Olhei durante a noite inteira para o céu a procura do rastro do cometa de cor esverdeada, o qual anunciaram que passaria sobre nossas cabeças e ontem seria o melhor dia para ser visto. Mas eu não o vi, como também não vi a lua ou as estrelas.

No entanto, estranhamente, sei que eles estavam lá. A lua, as estrelas e o cometa, todos estavam lá. O problema é que havia uma manta negra sobre a cidade...


¹ “A menina que roubava livros”, de Markus Zusak. Recomendo a leitura deste livro.
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Dany Ziroldo

sábado, 21 de fevereiro de 2009

CURSO DE ORATÓRIA

Penso que algumas pessoas já nasceram com o dom de falar em público, outras, assim como eu, vêem nesta tarefa algo parecido com um bicho de sete cabeças. O coração acelera, um frio e um calor sobem e descem dentro do corpo, as mãos suam, as pernas tremem e olhos não enxergam mais nada.

Perder todo este medo, provavelmente, não acontecerá da noite por dia ou pela simples participação em um curso de oratória, entretanto, este já um começo. Por isso, ontem resolvi participar de um curso oferecido em minha cidade, aqui que nunca acontece nada.

Não fazia a menor idéia de quem participaria deste curso ou como este seria conduzido, só possuía uma certeza, teria que falar em público! Obviamente meu coração se acelerou nas duas vezes que precisei ocupar o lugar de maior atenção da sala, na primeira para me apresentar e na segunda para falar alguns minutos sobre um tema que escolhi e, provavelmente, meu coração continuará se acelerando, mas não pretendo fugir.

Hoje, o curso continua e novamente precisarei falar em público. Desta vez o tema foi escolhido pela sorte e por ironia, talvez, em minhas mãos caiu um papelzinho com a palavra AMOR. Eu, que brigo tanto com amor, por querer encontrar razão onde não existe; que criei até um blog para tentar falar apenas sobre isso, mas por esta minha incapacidade, ele anda assim, um tanto abandonado, justo eu, terei que discorrer sobre o amor...

Faltam menos de duas horas para o momento decisivo e ainda não faço a mínima idéia do que falarei. Sei apenas que começarei (se não me der um branco, é claro) com palavras do grande poeta Camões:

“Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.”


Dany Ziroldo

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

UMA AVENTURA NA NOITE




O que poderia ser mais assustador para uma menina, com uma mochila nas costas, fones no ouvido e um guarda-chuva, andando sozinha no meio de uma noite chuvosa?
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As ruas totalmente desertas? Os uivos de alguns cães perdidos? Os pontos escuros próximos as árvores, onde qualquer bicho ou homem poderiam estar escondidos?

Definitivamente, não.

O que poderia ser mais assustador, com certeza, era um raio cortando o céu seguido pelo estrondo de um trovão. Ela viu a noite tornar-se dia por um segundo e sentiu toda a terra tremer abaixo de seus pés.

Contudo, antes que sintam pena da garota supondo que ela está perdida ou que não tenha ninguém nesta vida, preciso lhes confessar que esta é apenas uma estudante de espanhol que está indo sozinha para casa em uma noite chuvosa e de que necessitava somente de uma ligação para que o pai a fosse buscar na escola. Entretanto, ela não a fez e tinha seus motivos.

O que mais a atraia para as aulas de espanhol não era o prazer de conhecer uma nova língua, seus colegas de classe ou a amizade que mantinha com sua professora, decididamente, o que mais lhe atraia era o sentimento, ao qual gostava de chamar de liberdade, que lhe invadia o ser duas noites por semana enquanto caminhava solitária e despreocupadamente, com seus fones no ouvido, o breve percurso de 15 minutos que ia da sua casa até a escola e vice-versa.

Caminhar sozinha durante a noite não poderia ser comparado de forma alguma com o caminhar sozinha durante o dia, pois, segundo ela, à noite havia a lua e as estrelas para oferecer um toque de magia e mistério ao céu, em substituição ao sol escaldante do dia. E o mais importante, à noite não havia aquela multidão nas ruas com seus falatórios desenfreados, mau humor e pressa. A noite lhe oferecia a solidão e o silêncio na medida exata e um doce sentimento de liberdade.

Por tudo isso, depois de um período de férias e com uma louca vontade de sentir-se “livre” novamente, não poderia permitir que uma chuvinha lhe atrapalhasse. Sinceramente, achou que poderia ser uma boa aventura. Ela que vivia criando aventuras em sua cabeça, achou-se no direito de viver uma.

Retirou o guarda-chuva da mochila e iniciou o trajeto de volta para casa. Não se importou com o fato de não haver ninguém nas ruas ou por tudo parecer muito mais escuro naquela noite ou, muito menos, se importou com os latidos e uivos de alguns cães. No entanto, assustou-se com um raio que cortou o céu bem a sua frente e com o barulho do trovão logo em seguida. E como gostou de sentir aquele friozinho na barriga!

Seguindo seu trajeto, esqueceu-se de que a chuva havia sido forte e a rua de terra em que resolveu entrar, provavelmente, estaria puro barro. Já estava na metade do caminho quando encontrou um trecho feito de escuro e lama.

Ponderou ser muito tarde para voltar ou ligar para o pai e admitir que sentiu medo. A menina, com a mochila nas costas, seguiu e enfrentou toda aquela lama e escuro. Depois, denominou cada gelar de coração ao ver seu chinelo preso no barro e quase uma impossibilidade de prosseguir calçada como uma pequena conquista particular.

Riu-se, mais tarde, por ter apressado os passos, a ponto de quase correr, quando um homem com um jeito suspeito virou na mesma rua em que havia virado e parecia estar atrás dela, mas quando disfarçadamente olhou para trás, ele já havia entrado em alguma casa ou em outra rua.

Por fim, quando colocou os pés enlameados no portão da sua casa, sentiu-se quase a mulher maravilha, a dona do mundo e, por que não dizer, sentiu-se aliviada por ter sobrevivido ao escuro, à chuva, ao tremor da terra, aos monstros escondidos nas trevas que imitavam o som dos cães, à areia movediça que quase lhe roubou os chinelos havaianas e ao homem mau...
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Dany Ziroldo

*Imagem: a prova do crime por Dany Z.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

SERIA APENAS MAIS UMA CANTADA?



Como sempre, eu estava em cima da hora. Caminhava depressa, havia milésimos de segundo contados para cada passo e apesar do sol, das pernas lutarem contra a velocidade imposta pelo cérebro, chegar atrasada não fazia parte do plano.

Aproximava-me da metade do caminho, quando, de repente, um rapaz vestido de preto, naquilo que parecia ser um uniforme, com um capacete na mão esquerda sai de uma das casas e ao me ver, pára. Sorri e exclama:

- Nossa! Que moça mais linda! Que maravilha!

Minha reação foi quase imediata e desajeitada. Abaixei a cabeça e sem diminuir o ritmo dos passos disse-lhe bem baixinho: “Tudo bem?” Apenas por dizer, sem esperar resposta, é claro.

Continuei caminhando, cabeça baixa, quando ele ainda acrescentou:

- Parece que já conheço.

Confesso que não vi direito o rosto dele (sua aparição repentina me desconcertou) e não me atrevi a olhar para trás para confirmar que aquelas palavras não passavam de uma artimanha para tentar conquistar a moça que passava pela rua e como a moça que passava pela rua era eu, então fiquei sendo a moça linda, a maravilha...

E assim, sendo a moça linda, a maravilha, segui com meus passos rápidos pensando no quanto é engraçado como os homens se comportam quando um rabo de saia (no meu caso, uma barra de calça, pois não uso saias) passa por eles.

Fico imaginando, o que será que impulsiona atitudes como esta?
Elevar o ego de uma mulher? Duvido muito...

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Dany Ziroldo

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

MEME: OS SETE PECADOS CAPITAIS

Oi pessoal,
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Recebi um desafio (posso chamar isso de desafio, né? rsrs) da Chica, do Blog CUIDANDO DO NOSSO GRANDE CANTEIRO, responder um Meme sobre Os Sete Pecados Capitais e resolvi tentar responder... Então vamos lá:
Primeiro vou colar uma breve explicação sobre os setes pecados capitais, o qual copiei do blog da Chica, mas não sei ao certo de quem é esta definição (talvez você possa me ajudar Chicaaaaaaaaaa rsrs):
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" 1) Gula: consiste em comer além do necessário e a toda hora;
2) Avareza: é a cobiça de bens materiais e dinheiro;
3) Inveja: desejar atributos, status, posse e habilidades de outra pessoa;
4) Ira: é a junção dos sentimentos de raiva, ódio, rancor que às vezes é incontrolável;
5) Soberba: é caracterizado pela falta de humildade de uma pessoa, alguém que se acha auto-suficiente;
6) Luxúria: apego aos prazeres carnais;
7) Preguiça: aversão a qualquer tipo de trabalho ou esforço físico"
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Agora as minhas respostas:
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1) Gula: Bem, preciso confessar, estes é uns dos pecados capitais que cometo constantemente, principalmente quando houver rastros de açúcar naquilo que pretendo comer, talvez isso justifique os meus quilinhos a mais rsrs. Se deixarem chupo um pacote de bala em minutos. Sem contar os chocolates, bolachas recheadas, milk-shakes, etc... Comida saudável que é bom? Sem chance rsrs

2) Avareza: Isso posso dizer que é algo que não possuo, pelo menos não que eu já tenha notado. Sou simples, gosto de me sentir a vontade no quesito roupas e calçados, por isso, geralmente, vão me encontrar de calça jeans, tênis e uma baby look. Não ligo para acessórios, sapatos, maquiagem, unhas feitas, cabelos arrumados, etc e tal... Talvez seja um pouco econômica, do tipo que não gasta dinheiro a toa, mas avarenta, não.

3) Inveja: Digamos que já senti uma pontinha de inveja sim (quem nunca sentiu?), mas procuro não deixar esta inveja se tornar uma inveja ruim, aquela que nos faz querer tomar o lugar da outra pessoa e fazer de tudo para isso. Procuro transformá-la em uma “inveja boa” (nem sei se posso chamar assim), aquela nos faz ir em busca dos nossos sonhos, querer ser mais e melhores, no entanto, por méritos próprios, nunca passando em cima de ninguém.

4) Ira: Dizer que nunca estive irada, talvez seja hipocrisia, pois já senti raiva, ódio, não uma, mas várias vezes (do meu irmão principalmente rsrs),entretanto, sou muito controlada neste ponto, raramente me ofendo e quando me ofendo, muito mais raramente me defendo ou sou capaz de guardar este sentimento por muito tempo.

5) Soberba: Não me considero soberba, ao contrário, me acho dependente demais...

6) Luxúria: Bem, não sofro deste mal.

7) Preguiça: Outra confissão, sou um pouquinho preguiçosa (minha mãe que o diga!!! rsrs) No entanto, isso é mais para os serviços domésticos, fora de casa, a preguiça não atrapalha, não. Mas preciso melhorar neste ponto aqui em casa rsrs.
Sabem, é bom refletir um pouquinho sobre nossas falhas, com certeza, isto só nos fará crescer, amadurecer, ser pessoas melhores. Defeitos todos possuem, é impossível querer ser perfeito. Esta qualidade pertence unicamente a Deus.
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As regras deste Meme diz o seguinte:
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- Passar para 8 blogs
- Avisar e Linkar os blogs escolhidos
- Publicar suas respostas no blog
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Entretanto, prefiro não repassá-lo para ninguém. Deixo-o aqui, a disposição, para todas as amigas e amigos quem passam por aqui, comentam ou não e desejarem aceitar este desafio.
Um beijo enorme no coração de todos vocês!
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Dany Z.

sábado, 31 de janeiro de 2009

O LIVRO É...



Depois de beber alguns goles de vinho tinto e suave.
Depois de todos já estarem dormindo.
Depois de ter lido sobre Deus.
Depois de ter lido sobre prazeres mundanos.
Depois de já passar da meia noite.
Resolvo, enfim, escrever algumas palavras sem nenhum significado aparente.

Depois de tudo isso e mais um pouco, deixo-lhes uma breve reflexão na tentativa de acrescentar algo de significativo neste texto insignificante:

A minha “sorte de hoje”, que na verdade foi de ontem, ou melhor, de anteontem, dizia assim: “O livro é uma casa de ouro”. Pensando a respeito, devo concordar com esta afirmação, pois o que podemos construir dentro de nós através dos livros é algo imensurável, tanto no valor, quanto na quantidade. É claro que há livros dos mais diversos tipos e para os mais variados gostos, no entanto, se soubermos escolhê-los com calma e sabedoria, com certeza, construiremos uma linda casa de ouro.

E antes que a luz se apague e meus olhos se fechem, ainda preciso acrescentar que, para mim, o livro também é uma casa de sonhos. Há lugar melhor para sonharmos? Há lugar melhor para nos desligarmos do mundo externo (muitas vezes tão frio, triste, injusto...) e viajarmos por mundos fantásticos?

Deveríamos ler mais, sonhar mais e construir não uma casa, mas um castelo de ouro em nossa vida.
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Dany Ziroldo

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

TROFÉU DO AMIGO



Oi amigos,


Recebi este simpático selinho da querida amiga Chica do blog Sementes Diárias. Muito fofo, não?

Chica, confesso que fiquei surpresa quando recebi seu e-mail avisando sobre o selo, pois, realmente, não esperava. Foi uma surpresa maravilhosa!

Muito obrigada, de coração.

Para aqueles que ainda não conhecem o Selo, aqui vai uma breve descrição:

Esse é o Troféu do Amigo!!

Esses blogs são extremamente charmosos.
Esses blogueiros têm o objetivo de se achar e serem amigos.
Eles não estão interessados em se auto promover.
Nossa esperança é que quando os laços desse troféu são cortados ainda mais amizades sejam propagadas.
Entregue esse troféu para oito blogueiros(as) que devem escolher oito outros blogueiros(as) e incluir esse texto junto com seu troféu!!


Bem, como vocês puderam ver no texto acima, devo repassar este selo para outros oito blogs e aqui vai minha listinha, em ordem alfabética:


Alexandre Castro Alves (http://alexandresnews.blogspot.com/)
Du Domeneghetti (http://textosepoesiaspalavrastantas.blogspot.com/)
Gabriela Domiciano (http://gabrieladomiciano.blogspot.com/)
Hercília Fernandes (http://fernandeshercilia.blogspot.com/)
Liza Leal (http://lizzaleal.blogspot.com/)
Malu Paixão (http://bau-da-vovo.blogspot.com/)
Milla Borges (http://millaborges.blogspot.com/)
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Um grande beijo nos corações de todos vocês!!!
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Dany Z.
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Ps.: Apesar de estar postando este selo como se fosse o primeiro que recebi, preciso dizer que já recebi, primeiro da amiga Hercília e depois da Liza, o Selo Prêmio Dardos, mas ainda não tive como postar aqui, gostaria de pedir as mais sinceras desculpas e assim que puder, postarei o selo no blog.

sábado, 17 de janeiro de 2009

SENTAR E ESCREVER


Tem dias que sentar e escrever são tarefas fáceis, quase uma necessidade fisiológica, da qual dependo para sobreviver. Tem dias que sentar e escrever são tarefas extremamente penosas. Nestes dias, apenas sento. Como sento e não escrevo, decido deitar um pouco. Ao deitar-me, naturalmente, adormeço.

Quando acordo, minutos ou horas depois, volto a sentar. Novamente, sento e não escrevo e as horas correm. Na tela, permanece vivo somente o título provisório que usei para não esquecer sobre o que preciso escrever.

De repente, as horas ganham asas e voam. Eu me levanto, ando pela casa e sento-me. Então, olho pela janela e vejo as horas voando por entre as nuvens e rindo-se.

Será que já é tarde? Impossível precisar, já que na parede da cozinha ficou preso por um prego enferrujado pelo tempo, simplesmente um relógio vazio.

Agora chove e necessito fechar a janela para me proteger das gotas de chuva que insistem em se atirarem por entre as grades, estas mesmas que me negaram passagem para voar atrás das horas, capturá-las e congelar seus movimentos precisos e ininterruptos enquanto eu estiver aqui sentada, apenas sentada...

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Dany Ziroldo

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

INDIFERENÇA



Poderia fingir ser triste ou, quem sabe, alegre em demasia, no entanto, temo ser apenas indiferente...

Já faz tempo que meu peito não acelera, por paixão, espanto ou euforia. Nem as lágrimas os meus olhos umedecem, seja por tristeza ou alegria.

Invento tempos, espaços e pessoas, tanto, que hoje já tenho dúvidas sobre minha sanidade, sobre esta ou aquela verdade. Será que estou ficando louca, assim tão rápido, assim tão moça?

Penso, penso, penso... Mas nunca me resolvo. Deixo que o tempo me envolva e desfaça os sentidos de todos os sonhos, revoltas, tristezas e alegrias. Deixo que o tempo me envolva e me entrego à indiferença, esta que de tão cruel permite-me possuir somente o vazio.

Por hoje, não desejo nada. Não desejo ter, estar e muito menos ser.

Por hoje, contento-me com o vazio, o silêncio e esta minha indiferença.
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Dany Ziroldo

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

SABORES DA INFÂNCIA



Comida é um tema recorrente entre nós, as meninas da secretaria, e talvez esta seja a explicação para os nossos quilinhos a mais. Entre as conversas trocam-se receitas, dicas culinárias, preferências e desejos.

Naquela tarde, resolvemos falar um pouco do passado, dos tempos de infância, mas é claro, a comida estava no meio. Começaram a relembrar o que gostavam de comer quando crianças, coisas que hoje não existem mais: aquele pão caseiro recém tirado do forno, o bolo delicioso, o cheirinho de pão de queijo, o refrigerante que bebiam apenas nas datas especiais e de como tudo parecia ser tão mais gostoso.

Fiquei espiando de longe, por ainda ter um pé dentro da infância não imaginei que a conversa se estenderia a mim. Um tanto incrédulas que eu já pudesse ter alguma memória de sabores da infância, me questionaram sobre o que lembrava que comia quando criança e hoje não existe mais.

Tive que pensar um pouco, não muito, o suficiente para lembrar-me de duas coisas: o sonho da Sonia e a pamonha do homem do fusca verde.

Não tenho nenhuma lembrança da Sonia, do seu rosto, voz ou maneira de se vestir, lembro-me apenas do seu carro que passava na rua de casa de vez em quando e por eu adorar sonhos (os cobertos de açúcar e também aqueles que não podemos tocar), meus pais, vez ou outra, os compravam. Se minha memória não estiver me traindo, recordo-me que os sonhos ficavam no porta-malas do carro e eram colocados naqueles sacos de papel marrom.

A pamonha do homem do fusca verde é outra forte lembrança da minha infância. Para mim eram compradas sempre as pamonhas doces, na minha opinião, as melhores. Quer dizer, sou um pouco suspeita, quase tudo o que possui açúcar me agrada e muito. Também não tenho lembranças do homem e sua mulher, ficaram na minha cabeça somente as imagens das pamonhas e do fusca verde.

Hoje, infelizmente, não passam mais por aqui nem a Sonia, nem o fusca verde. Se, por acaso, sinto vontade de comer sonho tenho que passar na padaria do mercado e as pamonhas, às vezes, as encontro na feira. O problema é que nunca mais encontrei sonhos tão gostosos como aqueles, os sonhos da Sonia e na feira, sempre chego atrasada para as pamonhas, geralmente, elas já acabaram quando apareço por lá...

Sabem, durante toda esta conversa a respeito de comidas e lembranças, apenas sobre uma coisa não chegamos a um consenso: será que não fazem mais pães, bolos, sonhos ou pamonhas como antigamente ou foi nosso paladar que se tornou mais exigente com o passar dos anos?

Difícil dizer...

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Dany Ziroldo