segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

MEU VIVO PREFERIDO


Há dias exageradamente parados. Olhamos pela janela e não encontramos nenhum passarinho, borboleta ou inseto voando por aí. Até mesmo o vento parece ter se perdido em alguma terra desconhecida e, por isso, não apareceu para brincar com as folhas das árvores.

O celular está mudo. No Orkut e no Recanto, nenhum recado ou comentário novo. O e-mail parece que travou naquele número X de mensagens novas, de tal forma, que nem e-mails de propagandas são recebidos.

De repente, o celular começa a emitir sinais vibratórios e luminosos loucamente...

Quando disse que ele estava mudo, falei literalmente. Já faz tempinho que não ouço mais a voz dele e isto me deixa triste, porque gostava tanto quando ele me dizia ao receber uma mensagem: “Eu tô brabo! Eu não gosto mais disso! Eu vou é te bater na bunda, ó! Óia aqui, ó”, ou, quando alguém ligava e ele cantava para mim a música “I’m with you”, da Avril Lavigne ou “Same Mistake, do James Blunt. Agora ele não me diz mais nada, apenas treme todo e fica piscando, na tentativa de chamar minha atenção. (Falando nisso, preciso levá-lo ao médico antes que expire a garantia...)

E foi num dia como este, que descrevi acima, que meu celular veio quebrar com a monotonia aparente e evidente. Ao ouvi-lo vibrar, saí correndo feito louca para ver quem poderia ser. Peguei o celular e vi escrito na tela: “1 mensagem recebida”. Ao abrir a mensagem, quanta decepção a minha... Era, simplesmente, uma daquelas mensagens da operadora informando sobre alguma promoção.

Como estava tudo parado mesmo, nem um ser vivo parecia querer dar sinal, resolvi consultar meus créditos: “Sado Recarga: R$ 0,45 validade 10/02/2009 - Saldo Bônus: R$ 4,95 validade 01/12/2008”.

- Ops! Que dia é hoje, mesmo? Pensei comigo.

Sim, já era dia primeiro de dezembro e como sempre, eu tinha saldo bônus para vencer e como sempre, eu iria perdê-los.

Pois bem, naquele dia não!

O chato destes saldos bônus é que eles me permitem ligar apenas para números da mesma operadora, ou seja, VIVO, e aqui na minha cidade e nas cidades da região, quase todas as pessoas que eu conheço têm celulares de outras operadoras, o que dificulta minha vida, tornando-se uma tarefa árdua tentar aproveitar estas vantagens que me são oferecidas. Contudo, estava decidida a não perder aqueles bônus, afinal de contas, eu os ganhei e tinha todo o direito de usufruir deles.

Sabia para quem iria ligar. Para a pessoa que eu sempre ligo, ou seja, para minha amiga e “mamis” do coração (uma das poucas “vivas” dos meus contatos, talvez, a única).
Vejam como se gasta créditos bônus:

- Oi.
- Oi Di, tudo bem?
- Tudo e você?
- Tudo bem sim. Di, você sabe que é “meu VIVO preferido”, né?
- kkkkkkkkk
- Tô falando sério! Então, por você ser “meu VIVO preferido”, tô te ligando para gastar meus créditos com você.
- Hum!
- Vixe! Acho que minha bateria também está acabando.
- kkkkkkkk
- Se eu sumir de repente, é porque meus créditos ou minha bateria acabaram, tá.
- ( )
- Di! Di! Você ainda está aí?
- ( )
- Di?

Pois é, a bateria foi antes dos créditos... Até o meu celular conspira contra mim na tentativa de gastar meus bônus.
.
Dany Ziroldo

domingo, 7 de dezembro de 2008

ALGEMAS DE PRATA

Sentaram-se no sofá da sala, de mãos dadas, e assim permaneceram, imóveis, mudos, assistindo um programa qualquer. Ricardo não se atrevia a dizer uma palavra, sabia que Isadora não gostava de ser interrompida quando estava prestando atenção em algo, mesmo que fosse em um programa chato da TV. Ela, por sua vez, demonstrava estar compenetrada, no entanto, apenas viajava em sua imaginação e ele, é claro, também seguia junto...

- Amor, precisamos conversar – disse Ricardo assim que entraram no carro.
- Diga.
- Hoje é o aniversário dele, não é?
- Dele quem?
- Do seu ex, oras.
- Como você sabe que hoje é o aniversário dele?
- Vi o recado que você deixou pra ele no Orkut.
- É, deixei sim.
- Pensei que você tivesse dito que nunca mais falaria com ele.
- Disse e por isso não falei, apenas deixei um recado.
- Tudo bem, não vamos discutir por isso – sorriu e pegou carinhosamente em suas mãos.
De repente, seus olhos perderam o brilho:
- Cadê sua aliança?
- Minha aliança? – Isadora puxou a mão que estava presa na dele e a escondeu – Minha aliança? Acho que esqueci de colocá-la depois do banho.
- Como assim você esqueceu? Você não poderia ter esquecido, sabe o quanto significa para mim, quer dizer, pra nós. Achei que me amasse, Isa.

Enquanto os olhos deles se enchiam de lágrimas, ela era tomada por um misto de revolta e força, sentia-se tão forte que poderia conquistar o mundo, só não conseguia controlar as palavras que saíam de sua boca, coisa que sempre fez tão bem.

- Por acaso já me ouviu dizer que te amava?
- É, não, mas... – respondeu ele um tanto embaraçado e surpreso com a pergunta.
- Pois é, acho que não preciso te dizer mais nada.
- Mas, achei que você nunca tinha dito porque é sempre tão fechada, tão calada e não tem o costume de falar muito sobre o que sente...
- É, talvez não teria dito, então, vou ser mais clara. Por acaso já me viu escrevendo que te amava?
- Também não, – agora ele parecia mais confuso – achei que você nunca havia falado de mim em seus textos, porque estivesse com vergonha, você é tão tímida.
- Você tem razão, talvez seja tímida, talvez seja fechada e talvez nunca fale sobre o que sinto, mas cansei disso, ouviu. Cansei de tentar dizer as coisas não dizendo, cansei de falar nas entrelinhas e já que você não me entendeu até agora, vou dizer com todas as letras, o que deveria ter dito faz muito tempo: EU NÃO TE AMO!!!

Isadora abriu a porta do carro e antes de fechá-la, voltou-se e disse:

- Ah! Não se preocupe, depois lhe devolvo sua preciosa aliança.

Sentindo-se livre daquela algema de prata, a qual consentiu que lhe prendessem, suspirou aliviada...


***


- Amor, amor... Este programa está tão interessante assim? Você não tirou os olhos da TV desde que nos sentamos aqui. Parece até que está lá dentro da telinha e não aqui comigo.

Como se estivesse sido tirada a força de um sonho, o olhou assustada. Soltou suas mãos da dele e as trouxe para perto de si.


Com pesar, viu que a aliança ainda permanecia ali, intacta...
.
Dany Ziroldo

domingo, 30 de novembro de 2008

FALTAM-ME AS LÁGRIMAS

Na semana passada, por toda uma tarde, pensei em escrever um texto que falava sobre as lágrimas que me faltam, no entanto, ele se perdeu no caminho entre o trabalho e minha casa. Provavelmente, pegou um atalho e não soube mais achar o destino a que estava predestinado.

Nem vou tentar chorar por conta deste texto perdido, pois já estou acostumada a perdê-los e depois, como ele mesmo iria contar a vocês se tivesse chegado aqui, faltam-me as lágrimas.

Não me lembro exatamente o que ele dizia, mas amarrei à lembrança algumas palavras soltas e assim, um tanto deformado, tentarei reconstruí-lo.

Recordo-me das lágrimas que não me pertenciam e corriam pela face daquela mulher enquanto me contava sobre a sua vida. Ela falava e sem se incomodar por eu ser apenas uma estranha, permitia que as lágrimas, espontaneamente, saíssem dos seus olhos. Eu permaneci em silêncio, ouvindo e pensando: “Minhas dores são tão pequenas, que nem deveria ter o direito de entristecer-me por causa delas.”

Recordo-me das lágrimas da senhora encostada na pia da cozinha. Ao ver as lágrimas, perguntei-lhe por que chorava. Era seu neto que estava indo embora e mesmo antes dele ir, já sentia sua falta. Disse-me que não queria chorar, mas as lágrimas simplesmente saiam. Sinceramente sentida pela dor da senhora, quase lhe disse que comigo acontecia o contrário: Queria chorar, mas as lágrimas não queriam brotar em meus olhos.

Estas foram as lembranças que ficaram daquele texto que se perdeu por aí. Duas mulheres, que por motivos tão diversos, choravam. Ele provavelmente dizia muito mais, talvez falava mais sobre mim e minha falta de lágrimas, no entanto, há certas coisas que perdem o sentido de existirem, de serem faladas ou escritas, depois que o tempo passa. Por isso, tentei perder estas lembranças da mesma forma que perdi o texto.

Contudo, estas lembranças foram muito bem amarradas por minha memória e, hoje, voltaram a terem sentido, pois novamente senti que faltam-me as lágrimas.

Minha mãe conta que quando eu era criança, um bebê ainda, chorava por tudo. Era uma verdadeira chorona (deveria dar muito trabalho). Não ia ao colo de ninguém, nem dos parentes (desconfio que já tenha nascido um tanto anti-social). Quem sabe, fico aqui pensando, seja este o motivo de não possui mais lágrimas dentro de mim. Chorei-as todas quando criança.

Agora, sem mais lágrimas, fico apenas com o sentir vontade de chorar. Como naquele dia em que escreveria aquele texto, em que senti muita vontade de chorar, porém não me lembro mais o motivo. Como hoje, que também estou sentindo esta mesma vontade.

Por qual motivo? Bem, prefiro guardá-lo para mim e para minhas lágrimas. Tenho esperança de que ainda voltem...
.
Dany Ziroldo

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

SEGREDOS POR DETRÁS DAS PORTAS

Sinto o ar cada dia mais denso, tanto que até a respiração tem se tornado difícil.

Os olhares que antes me inspiravam confiança, hoje escondem qualquer coisa sombria. Desviam-se constantemente, por qualquer motivo, nas respostas vazias de todas as perguntas.

Por detrás de cada porta fechada, adivinho sussurros e segredos. Diminuo o passo, imagino-me com o ouvido encostado na porta para tentar escutar o que sutilmente paira no ar. Apenas imagino a ação transgressora, depois sigo pelos corredores de cabeça baixa, fingindo não saber aquilo que, realmente, não sei, mas pressinto.

A sensação é de quase sufocamento. Nem os ventiladores ligados vinte quatro horas por dia, girando com força total, estão se mostrando capazes de fazer o ar circular com mais facilidade. E para tornar a situação ainda mais desconfortável, o sol não dá tréguas. Queima, faz o suor brotar por toda a extensão da pele, aumentando ainda mais o aspecto de cansaço em nossas faces.

Os olhares se entrecruzam atravessados, com a mesma desconfiança depositada em qualquer bandido de alta periculosidade. De repente, todos, sem exceção, se tornaram culpados.

Eu, estranhamente, tenho me sentido culpada, entretanto, nem sei qual foi o crime que cometi.

Todos parecem saber. Todos cochicham pelos cantos. Todos parecem entrar nas salas de portas fechadas onde só há sussurros e segredos. No entanto, o acesso tem sido negado a mim.

Negam-me o acesso às salas secretas. Negam-me o fruto proibido do conhecimento. Permaneço de olhos vendados, ignorante a qualquer tipo de entendimento, contudo, ainda posso sentir.

Sinto de maneira tão forte que é impossível fazer de conta que há normalidade. Sinto como nunca senti antes, tanto, que meu peito se aperta, minha pele se arrepia e a respiração tem se tornado difícil.

Tenho medo de que me condenem, mesmo que inocente. Tenho medo deste não saber. Tenho medo de que amanhã não consiga mais respirar...
.
Dany Ziroldo

domingo, 23 de novembro de 2008

“DESAFIANDO GIGANTES”


Como na história bíblica em que Davi, considerado apenas um menino diante dos homens, venceu o gigante Golias amparado pela sua fé em Deus, assim também, um pequeno e desacreditado time de futebol americano conquista o título do campeonato estadual sobre o imbatível time dos Gigantes, nome que, com certeza, não foi escolhido por acaso.

Neste filme, Desafiando Gigantes, o foco principal não está necessariamente no campeonato de futebol americano ou no esporte em si. As lentes das câmeras estão todas voltadas para o poder transformador da fé em Deus, que de forma muito significativa opera na vida das pessoas envolvidas nesta história.

Depois de uma seqüência de insucessos na sua vida profissional e pessoal, o treinador Taylor percebe a necessidade de se realizar uma mudança e esta mudança seria possível apenas se fundamentada em Deus. Desta forma, cria uma nova filosofia de trabalho, a qual, conseqüentemente, transforma-se em uma filosofia de vida, não exclusivamente para a sua, mas para todos a sua volta.

Certos de que Deus é o Senhor de todas as coisas, para quem nada é impossível e de que sempre deveriam dar graças a Ele, por suas vitórias e por suas derrotas também, agem movidos por sua fé, acreditando que se vivessem de acordo com este novo pensar, sempre preparando suas vidas para o agir de Deus, seriam capazes de vencer.

Vencer não no sentido restrito que esta palavra adquire dentro das quatro linhas de um campo de futebol, mas vencer no amplo sentido de que apesar de todas as dificuldades e das nuvens negras que por vezes pairam por nossas cabeças, ainda há uma esperança, ainda há alguém que zela por nós, que mesmo que seja invisível aos nossos olhos, se acreditarmos Nele, nos mostrará um caminho, segurará em nossas mãos e nos guiará, para que, enfim, possamos superar todos os obstáculos.

“Desafiando Gigantes” nos mostra a importância de nunca desistirmos. Nos mostra a força e poder de Deus sobre nossas vidas quando possuímos uma fé verdadeira. Nos mostra a necessidade de não permitir que esta fé se abale. Nos mostra que acreditarmos em nós mesmos é uma forma de acreditar em Deus. E por fim, nos mostra que para Ele nada é impossível. Por isso não temos motivos para desistir.

Foi com este filme, que na tarde de ontem, permiti que algumas lágrimas escorressem por minha face e com elas me permiti refletir o quão pequena ainda é minha fé.

Não sei quantos de vocês já assistiram ou ouviram falar deste filme, entretanto, para aqueles que ainda não o conhecem, fica aqui uma dica:

O Filme DESAFIANDO GIGANTES...
.
Dany Ziroldo

terça-feira, 4 de novembro de 2008

UM FIM PARA TODAS AS COISAS


Enquanto caminhava, olhando para o céu numa tentativa de adivinhar contornos entre as nuvens, respirei fundo e perguntei a estes seres intocáveis se eu ainda teria tempo.

- Digam-me nuvens! Ainda tenho tempo para desistir?

Gritei o mais alto que minhas cordas vocais permitiram, mas esqueci de abrir a boca para que o som pudesse sair e chegar aos ouvidos das nuvens, por isso ele bateu nas paredes internas de minha boca e ressoou, unicamente, dentro de mim.

Se ao menos as nuvens tivessem me ouvido, talvez fossem capazes de me dar uma resposta, talvez me encorajassem a largar tudo, jogar tudo para o alto (para as nuvens) e me libertassem deste sentimento de impotência, de incapacidade.

Contudo, mesmo sem as respostas das nuvens, quase adivinhando o que me diriam, temo ser tarde, temo, profundamente, não haver mais tempo de desistir. E, hoje, por acreditarem que não sou mais criança, por permitirem que eu já faça minhas escolhas, por eu ter escolhido começar algo, por tudo isso e mais um pouco, ainda hoje, exigirão de mim um fim para o que comecei, não se importando o quanto ou como este fim poderá me afetar.

Se ao menos pudesse chorar e comover o coração dos verdadeiros adultos, aqueles que conhecem o mundo e sabem das coisas, talvez ainda tivesse uma chance de desistir e evitar o fim.

Apesar desta minha vontade de fugir, desta minha recusa em aceitar o inevitável, devo reconhecer: Não há mais tempo e o fim não poderá ser evitado, os fins nunca poderão ser evitados, de uma forma ou de outra, sempre haverá um fim para todas as coisas (quem será que, para minha tristeza, descobriu isso e que me fez, neste momento, constatar e repetir?). Mesmo se jogamos a toalha ou levantamos uma bandeira branca, conseqüentemente, estamos caminhando para uma forma de fim, provavelmente, a pior forma de fim. O fim ao qual estão fadados os mais covardes.

Se ao menos pudesse voltar no tempo e começar tudo novamente, se pudesse fazer tudo diferente (quem nunca desejou isso um dia?), talvez não estivesse andando por aí, tentando falar com as nuvens e buscando nelas, desesperadamente, uma solução.


Dany Ziroldo

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

SERÁ O MUNDO DOS ESPERTOS?


Vivenciamos certas situações, as quais nos causam indignação e revolta. É quase inacreditável a “cara de pau” com que algumas pessoas se revestem para cuspir em nossa face a conhecida frase: “O mundo é dos espertos!”, sempre com um gargalhar sarcástico por detrás da máscara feita de madeira nobre, livrando-se de qualquer suspeita.

Por eu sempre ter sido muito bobinha, ingênua, tola (utilizem o adjetivo que considerarem mais adequado), por eu sempre pensar uma vida inteira antes de dar qualquer passo, passar-me para trás nunca foi tarefa difícil. Por eu ser boba, me enganam e quando me dou conta, não há mais nada o que fazer. Por eu pensar demais, me ultrapassam e quando resolvo apertar o passo na corrida, já estão cruzando a linha de chegada.

Dificilmente desfaço-me desta cara de tonta, dificilmente consigo sentir o sentimento de revolta, por isso quando o sinto, não sei exatamente o que fazer. Comer chocolate sempre será uma saída, na falta, hoje comi bolachas e fiquei andando pela casa, pensando em descarregar nas palavras. Se ainda fosse semana passada, já teria escrito o texto e talvez já estaria me sentindo melhor, mas me fiz uma promessa: dar um tempo para a escrita, por hora. No entanto, também tenho o péssimo hábito de não cumprir promessas. (Por favor, perdoem-me todos aqueles que estão esperando que eu cumpra alguma promessa que lhes fiz. Um dia, as promessas que ainda me lembro, pretendo cumpri-las.)

Hoje, por enquanto, o problema não é minhas promessas, o problema é que certas pessoas são “espertas” e tentam enganar os “tolos”. Estas pessoas são capazes de se transformarem, da noite para o dia, de algozes em vítimas e pior, muitas vezes acreditamos serem verdadeiros heróis.

Depois de enganados, sentimo-nos, verdadeiramente, comovidos e sentidos com suas falas, que até mesmo suas palavras verdadeiras adquirem significados puramente figurados aos nossos ouvidos, descartando o único significado real, o literal.

É verdade que, possivelmente, um dia a máscara cairá e será neste exato momento que a revolta surgirá.

Contudo, aprendemos (pelo menos, sempre tentaram me ensinar e espero, sinceramente, estar aprendendo) que para todo o esforço há uma recompensa; que mentira tem perna curta; que devemos andar pelo caminho correto, por mais duro que este possa nos parecer a princípio; que a justiça dos homens pode falhar, mas a de Deus nunca falha. Por isso, por acreditarmos que Deus tudo vê, começamos a nos acalmar.

O mais engraçado nisto tudo é que este sentimento de revolta só chegou a esta proporção por uma culpa inteiramente minha. Poderia ter feito algo ontem, anteontem ou (ante)anteontem, entretanto, deixei para hoje e pensava em deixar para amanhã.

Agora já é tarde e talvez apenas eu tenha visto o que se esconde por detrás daquela máscara...


Dany Ziroldo

domingo, 26 de outubro de 2008

CALAR DE UMA POETA

Nestas páginas incertas
Faço destes os derradeiros versos
Escritos por poeta menina

Impondo-me o silêncio
Como forma de castigo
Por meu habitual desleixo

Impondo-me o silêncio
Como forma de protesto
Por desfaçatez alheia

Cala-se hoje a voz de mais uma poeta...

Dany Ziroldo

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

DOLOROSO ABRAÇO DE DESPEDIDA


Depois de tanto tempo sem ver aquela tia distante, é natural que haja alegrias no encontro e tristezas na despedida.

Assim que chegou para a costumeira visitinha rápida, nos recebemos com abraços e sorrisos, contamos as novidades e após alguns breves minutos, verificado o adiantado das horas, ela decidiu que já estava na hora de pegar a estrada.

Como em todas as despedidas, foi impossível disfarçar nossa tristeza. Ela me abraçou forte, como sempre fazia, um abraço de quem se despede e não sabe se irá voltar ou, se voltar, não sabe quando.

Com seu abraço apertado meus olhos se encheram de lágrimas e minha tia, com certeza, percebeu minha dor, a dor da partida e por isso tentou me consolar. Disse-me que poderia ir visitá-la e caso algo me impedisse de ir, que não me preocupasse, pois ela voltaria assim que fosse possível e da próxima vez permaneceria por mais tempo.

Percebi que os olhos dela também se encheram de lágrimas e eu, comovida, deixei-me envolver pelo seu abraço, talvez o abraço de despedida mais doloroso de toda a minha vida...

_,,_,,_,,_

Por favor, amigas e amigos, não se entristeçam por esta despedida, nem sou tão ligada a esta minha tia e sei que ela voltará... Agora, preciso contar-lhes a história de um ângulo diferente, no entanto, vista por este lado, só conto para vocês e espero que não contem a ninguém...

Depois de um longo tempo sem nos vermos, naturalmente, mostrei-me feliz com a visita de minha tia, a qual, como de costume, foi rápida, o suficiente para verificar se tudo estava bem. Na hora da despedida, ela abraçou-me forte e demoradamente.

Ainda não sei ao certo qual bicho se escondia em minhas costas ou estava camuflado no braço dela, sei apenas que quando seus braços me envolveram e me apertaram, senti o ferrão de algum animalzinho venenoso infiltrando-se em minha pele, quis soltar-me daquele abraço que me apertava, me ferroava e queimava minhas costas, porém ela abraçava-me cada vez mais forte, um abraço de quem está de partida e sabe que um reencontro poderá demorar algum tempo para acontecer.

Um único pensamento corria por minha cabeça naqueles breves minutos: “Como poderia me livrar daqueles braços?” Não encontrava maneiras e quanto mais apertado tornava seu abraço, mais meus olhos se enchiam de lágrimas... Imagino que ela ficou pensando que eu não queria que partisse, pois com os olhos molhados me disse para ir visitá-la e se Deus permitisse, no final do ano voltaria para uma nova visita.

Assim, ela partiu. Deixando-me de recordação o abraço de despedida mais doloroso de toda a minha vida, do qual carrego como resquício, uma pequena marca em minhas costas...

Dany Ziroldo

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

“OS INCOMODADOS QUE SE MUDEM!”


Não sei dizer ao certo quem foi que teve coragem de pegar o telefone e discar 190. Sei apenas que isso muito me agradou, afinal, já passava da meia noite e eles ainda continuavam ouvindo aquelas músicas, que considero “músicas de corno”, no mais alto som e o que é pior, cantavam junto com as músicas.

Não pensem que sou uma velha chata, pois isso não sou não, mas temos que concordar que até mesmo para festas e alegrias exageradas há um limite, o qual, inclusive, está previsto em lei.

Querem festar? Ótimo! Querem me convidar para a festa? Melhor ainda. Contudo, vocês não são os únicos habitantes desta pequena cidade, desta rua ou desta casa. Não custa nada se colocarem, por um momento, no lugar do próximo e pensar que ainda era terça-feira, que amanhã seria quarta e que muitos, até mesmo, muitos de vocês, teriam que acordar cedo no dia seguinte para enfrentar mais um dia de trabalho.

Reconheço que, infelizmente, colocar-se no lugar do outro é tarefa muito difícil para a maioria das pessoas e que muitos ainda têm a coragem de dizer: “Os incomodados que se mudem!” Quanto egoísmo, meus caros.

Se todos pensássemos desta forma (“Os incomodados que se mudem.”), não haveria mais lugar no mundo para aonde os incomodados pudessem se mudar e teríamos que mudar esta frase para: “Os incomodados que me interrompam e conquistem seu espaço!”

Já pensaram se todos nós tivéssemos que interromper aqueles que nos incomodam? Com certeza, o mundo se transformaria em um caos muito maior do que já é. Teríamos, todos os dias, pessoas brigando com aqueles que as incomodam, tentando interrompê-los com sua “incomodação” para conquistarem seu espaço.

Nossa sorte, é que há sempre um antônimo para quase todas as palavras ou idéias. Se pensamos em mal, logo lembramos que há o bem. Se pensamos em tristeza, sorrimos porque lembramos que, em algum lugar, ainda existe a alegria. Se pensamos em ódio, descobrimos, em seguida, que o amor ainda vive. Se pensamos em egoísmo, nos surpreendemos com a existência da palavra altruísmo.

E por fim, se pensamos que existem pessoas que dizem: “Os incomodados que se mudem!”, podemos ter a certeza, que também existem outras que pensam: “Não desejo para o outro, aquilo que não quero para mim”.

Dany Ziroldo

DESEJO PARA HOJE


Hoje o meu desejo era escrever, um desejo simples assim, apenas escrever.

Mas é tarde demais, porque hoje não é mais hoje. Há cinco minutos, ele tornou-se ontem e, ao mesmo tempo, tornou-se amanhã. Pode parecer complicado a princípio, porém nada que não possa ser explicado, pelo menos espero...
É assim, o hoje se transformou duplamente e simultaneamente e ainda permaneceu imutável. Fez-se ontem, fez-se amanhã e ainda assim, continua sendo hoje, simples não?
Tudo bem, confesso, não é tão simples assim e pelas caras que fizeram, acho que não entenderam... Querem saber de uma coisa, vamos deixar isso para lá e voltemos ao meu desejo para hoje, que nem é mais hoje...

Então, meu desejo era escrever e já havia até pensado em inúmeras coisas sobre o que desejava escrever. Primeiro desejei escrever uma homenagem aos meus queridos professores, depois um texto sobre aquele amigo que nunca mais apareceu e, por fim, sobre o que se passa em meu coração.

Contudo, o hoje, dia do meu desejo, já chegou ao fim faz trinta e cinco minutos e ainda não fui capaz de escrever uma linha sequer para nenhuma das coisas que relacionei acima. Isso me deixa imensamente angustiada, pois meus queridos professores não ficarão sabendo o quanto os estimo, meu amigo não saberá o quanto sinto sua falta e o meu coração continuará apertado, porque não consegui expressar, colocar para fora, aquilo que me incomoda.

E hoje, o amanhã do meu hoje, apesar de ter desejado escrever sobre tudo isto, desisto de escrever, inclusive este texto.
Quem sabe, termine-o amanhã, um amanhã que já é hoje....



Danielly Ziroldo
*imagem por Dany Z.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

APENAS, ABRA A JANELA


Abra a janela,
Admire a simplicidade
Do movimento do vento
No leve tocar das folhas.

Não sinta inveja
Da criança em ingenuidade
Livre no tempo
Vivendo o que sonha.

Abra a janela,
Derrube essas grades
Renuncie ao medo
E acredite na paz

Confesso não haver segredos
Receitas, nem magias
Que lhe confie alguma segurança...

Apenas, abra a janela.

Danielly Ziroldo
* imagem por Dany Z.

domingo, 12 de outubro de 2008

A PENETRA

Cecilia bem que desejou não aceitar o convite. Disse não na primeira vez, disse não na segunda, mas temos que concordar que dizer não pela terceira vez era demais, até mesmo para ela.

E assim, não querendo ir e adivinhando que ao chegar lá, aqueles que fizeram o convite para uma festa que nem lhes pertenciam, encontrariam seus amigos e a deixariam ali, se sentindo a pior pessoa do mundo e jurando para si mesma que nunca mais aceitaria convite nenhum (exceto se este viesse do dono da festa e com o qual tivesse um bom laço de amizade), foi ao churrasco.

Por todo o caminho, esfregou as mãos, mordeu os lábios e quando chegaram, precisou respirar fundo para descer do carro. Ao longe, pôde ver rostos conhecidos, um ou outro desconhecido, mas nenhum amigo, ninguém de quem pudesse se aproximar, abraçar e dizer: “Que bom te encontrar por aqui!”.

O que se passou depois, já sabem. Enquanto tentava sorrir e se mostrar a vontade, seus pensamentos lhe feriam como lâminas. O refrigerante, que aceitou depois de oferecerem-lhe insistentemente, desceu por sua garganta como fogo. Perguntava para si mesma como poderia ter sido tão burra a ponto de aceitar aquele convite. Se ao menos o carro lhe pertencesse e soubesse dirigir, poderia inventar uma dor de cabeça e ir embora.

As músicas sertanejas e gauchescas, das quais tinha verdadeiro horror, corriam no mais alto volume pelo salão, algumas pessoas dançavam, outras apenas conversavam e riam. Cecilia permanecia encostada na parede, com o copo quase vazio na mão, balançando positivamente a cabeça sempre que se dirigiam a ela.

Sua agonia se agravava a cada vez que uma das convidadas da festa se esforçava ao máximo para que ela, que desempenhava o pior papel de penetra já existente, se sentisse a vontade. Aquela mulher mal lhe conhecia, mas fazia questão de tratar-lhe com muita simpatia e carinho, e este tratamento fazia com que se sentisse culpada por não conseguir retribuir aquele esforço de transformá-la em uma convidada desejada. Sentia-se culpada por descobrir que o problema não estava nas outras pessoas, mas sim, nela.

Tentou uma aproximação, precisava ser mais sociável. Sentou-se próxima à mulher que lhe fora tão receptiva e pensou em puxar conversa. Mas sobre o que falaria? Ela que era uma péssima falante, que sabia falar apenas de escola, estudos, uma ou outra coisa de literatura, livros ou futebol, sobre o que falaria? Todos estes temas pareciam estar muito distante dos interesses daquela que a tratava tão bem e para não se tornar inconveniente, não ousou dizer palavra alguma.

De longe, um homem a observava e ela fingia não ver aqueles olhos cheios de interesse. Chegou a pressentir a intenção dele de convidá-la para uma dança, contudo, para evitar a situação constrangedora de ter que responder ao convite, levantou-se e foi se refugiar no banheiro feminino...

Apesar de não ser mais inverno, a noite, de repente, tornou-se gelada. Os convidados, um a um, sentiram a necessidade de voltar para casa se proteger do frio que não esperavam. O dono da festa encarregou-se de apagar a churrasqueira, silenciar as músicas e desligar as luzes.
.
Danielly Ziroldo

sábado, 11 de outubro de 2008

POR DORMIR NO PONTO


Quando entramos em um ônibus e o nosso destino não for a última parada da linha, “dormir no ponto” pode ser um grande problema, tendo como conseqüência alguns contratempos, como ter que andar mais do que seria necessário para chegar à sua casa ou qualquer lugar aonde esteja indo, ou, até mesmo, ir parar em algum fim de mundo perdido por aí.

“Dormir no ponto” pode, também, ser uma situação um tanto que constrangedora, principalmente, se as pessoas ao redor perceberem esta nossa pequena distração. Não me recordo de já ter acontecido isso comigo outras vezes, no entanto, como dizem por aí, sempre tem a nossa primeira vez e a minha, foi hoje.

Estava voltando para casa da cidade vizinha, onde estudo, ouvindo as músicas do Teatro Mágico e pensando na vida e nas milhares de coisas que tenho para fazer e tudo em tão pouco tempo. Ao entrar na minha pequena/grande cidade, deveria descer no segundo ponto e pensava nisto quando paramos no primeiro. Neste momento, eu ainda estava acordada, dei passagem para o menino que estava do meu lado e disse para mim mesma que esperaria mais alguns minutos para puxar a cordinha de solicitação de parada. Acho que depois deste pensar, dormi, aquele dormir de olhos abertos, e quando me dei conta, o ônibus já havia parado no meu ponto e estava fechando suas portas e seguindo para o próximo.

Consciente da minha pequena distração, levantei-me num susto só. Com certeza, as pessoas que estavam por perto ficaram se perguntando se eu iria descer ali, percebi que até o motorista olhou para mim através do retrovisor, o que me dava uma oportunidade de dar um grito pedindo para que ele parasse, contudo, eu, com toda esta timidez, disfarcei na hora e todos aqueles que, provavelmente, me olharam (não sei se me olharam de verdade, porque não olhei para eles) ficaram apenas na dúvida se eu desceria ou não.

Dei alguns passos para frente e me sentei em outro banco. Para não confessar a todos os presentes que, realmente, eu havia “dormido no ponto”, fiz questão de não descer na parada seguinte e fui descer somente na rodoviária.

Dei-me como desculpa, para a parada na rodoviária, a necessidade de comprar um rolo de fitilho, o qual já havia desistido de comprar por não saber se vou usar. E quase que minha desculpa vai por água abaixo! Quase que não encontro o bendito fitilho. Em uma loja não havia e na outra, por sorte, a moça encontrou os dois últimos rolos.

Comprado o fitilho, que ainda nem sei se vou usar, preparei os pés e as canelas e tomei o rumo de casa, mas está tudo bem, eu gosto mesmo de andar...

Ter “dormido no ponto” ruborizou minhas faces e me deixou constrangida, entretanto, serviu para alguma coisa.

Primeiro, fez com que eu escrevesse uma crônica e segundo, talvez o mais importante, me fez refletir sobre algumas coisas, me fez refletir sobre este “dormir no ponto”, mas não sobre este que aconteceu comigo hoje. Na verdade, me fez refletir sobre as diversas vezes em que “dormimos no ponto” em nossas vidas.

Não sei se já pararam para pensar a respeito, o fato é que, durante toda esta nossa caminhada pela vida, construímos sonhos, traçamos metas e destinos, no entanto, às vezes, estamos com a cabeça tão perdida pelo mundo da lua, que nem percebemos que logo ali havia um ponto aonde deveríamos e gostaríamos de parar e, por isso, passamos por ele. Esta nossa distração pode nos custar caro, como ter que fazer um longo caminho de volta, com a dúvida de sermos capaz de encontrar no mesmo lugar o nosso ponto de parada.

A mesma coisa acontece com as oportunidades, se “dormimos no ponto” elas passam e nem nos atentamos para elas e se um dia chegamos a perceber, já é tarde demais, pois outra pessoa deve ter se aproveitado desta nossa pequena distração.

Pensando em tudo isso, percebi que vivo “dormindo no ponto” e, sabem, foi até bom o que me aconteceu hoje... Me fez ficar mais esperta....


Danielly Ziroldo



quarta-feira, 8 de outubro de 2008

TENTANDO PUXAR CONVERSA


Não sei ao certo de onde aquela menina me conhece e apesar de eu não saber seu nome, ela sabe o meu, fazendo questão de me cumprimentar todas as vezes que passo por aquela rua. Sempre tenho a impressão de que ficaremos apenas com o dizer de “ois”, no entanto, a menina sempre se volta para mim e aborda-me com a mesma pergunta...


Não penso que ela repete a pergunta por ter esquecido a resposta, penso que, talvez, esta foi a maneira que encontrou para puxar conversa. E como ela me puxa para a conversa, eu me esforço em ir e permanecer. Respondo as simples e apenas curiosas perguntas e, em contrapartida, pergunto outras simples e também apenas curiosas perguntas, a fim de tentar estabelecer o diálogo.


Às vezes, detenho-me para estas nossas ligeiras conversas, outras vezes, ela me acompanha por alguns metros, contudo, da mesma maneira inesperada com que me aborda, a menina interrompe a conversa, se despede e vira a esquina ou, simplesmente, volta para suas brincadeiras.


Depois, sigo meu caminho, sempre pensando, ou melhor, imaginando: “Qual o querer da menina?"


Para ser sincera, não sei se há algum querer, que não seja apenas o querer de desejar trocar algumas palavras com quem passa pela rua e se eu passo por ali, então, por que não puxar conversa comigo?


Danielly Ziroldo


INVERSO DO CERTO


Se fecho os olhos ao inverso do certo, o que é inverso me inverte, num jogo em que os inversos de tanto que se invertem, não nos permite mais discernir o que é certo ou apenas inverso.
.
Danielly Ziroldo

domingo, 5 de outubro de 2008

SE DENTRO DE MIM...



Se dentro de mim
Sou apenas uma menina indefesa
Como querer enfrentar o mundo
Como uma mulher grande e forte?
Se dentro de mim
Sou apenas a covardia
Como querer tornar-me heroína
De qualquer história, mesmo que inventada?
Se dentro de mim
Sou apenas uma alma solitária e egoísta
Como querer buscar a companhia
Daqueles que se esquecem de si em prol do outro?
Se dentro de mim
Sou apenas um mar de medos
Como querer abraçar qualquer causa?
Como querer entregar-me ao amor?
Como querer deixar de ser apenas eu?

Dany Ziroldo

Segunda-feira, 29 de setembro de 2008.

Poesia Online - Recanto das Letras
Mote: “A única revolução possível é dentro de nós” (Gandhi)


SILENCIAR



Não tenho medo da chuva,
Não tenho medo do barulho dos trovões,
Muito menos dos raios que cortam o céu.

Mas tenho medo deste silêncio
Imposto às cordas do meu violão
Neste dia de forte tempestade.

Não tenho medo do vendaval,
Desejo que o vento me leve consigo
Quem sabe assim, finalmente eu encontre:

Os acordes por minha memória esquecidos...



Dany Ziroldo

sábado, 4 de outubro de 2008

CALAR-SE


Calar-se é uma forma de não correr riscos, calar-se é uma forma de tentar se proteger, por isso, tento me calar.

Tento, mas as palavras acabam saindo sorrateiras por minha boca e quando percebo já foram ditas e uma vez ditas, torno-me vulnerável e se antes tentava esconder que estava com medo, agora já não posso mais.

Quando as palavras me escapam sorrateiras, dizem o que pensam e o que eu penso, abrindo uma fresta que se enche de arrependimento para tentar encobri-la, no entanto, o arrependimento é invisível e ninguém o enxerga, quando olham por esta fresta, enxergam apenas a mim e tudo mais que tento esconder.

Calar-se é uma forma de deixar de dizer o que não penso, um não pensar que é dito por medo, por acomodação ou por forças das circunstâncias. Este falar sem pensar camufla as frestas abertas, entretanto, apenas aumenta minha culpa.

Queria somente me calar e não precisar mais dizer, assim não sentiria culpa por ter dito sim quando deveria ter dito não ou vice versa. Queria somente me calar para não ter que dizer não depois de já ter dito sim e por esta razão, sentir um arrependimento sem motivo, um arrependimento por ter dito o que pensava, o que sentia.

Queria somente me calar, contudo tenho consciência de que isto que tento fazer remédio pode transformar-se em veneno, aumentando este sentir que me assola, em vez de aliviá-lo... Por ter esta consciência, às vezes, digo, mas digo baixinho, assim quase ninguém ouve e quem ouve não entende...

Danielly Ziroldo
* imagem pesquisada em : http://creativecommons.org.br/

O SEGREDO DO MEU IRMÃO MAIS VELHO II



Contei-lhes, outro dia, que meu irmão mais velho tinha um segredo e disse que contaria este segredo apenas para vocês e não espalharia para a cidade inteira, mesmo ele merecendo. O fato, é que nem foi preciso que eu dissesse nada. A cara de bobo (coisas de quem está apaixonado) que ele tem andado ultimamente, o dedurou.

Fiquei até com pena do meu irmão mais velho, lá no serviço ele tem sentido na pele o que já senti (ufa! por uns minutos esqueceram-se de mim...), quer dizer, ele tem sentido um pouquinho mais, afinal, quando um homem se vê no meio de um monte de mulheres, pode saber que não escapará de suas línguas...

E já que todo mundo está sabendo que ele está apaixonado, por que não contar mais uma ou duas coisinhas sobre meu irmão mais velho?

Este meu irmão mais velho, que nem é mais velho do que eu e muito menos nasceu da mesma barriga da qual eu nasci, diz ter um pequeno problema com mulheres: não consegue ficar apenas com uma! Quando me disse isso, quis pegar-lhe pelas orelhas e disse-lhe que isso já era sem-vergonhice. Tentou se defender por horas, disse-me que isso era mais forte do que ele e coisa tal. (Maninho, me poupe, né?)

Na verdade, penso que esta história de não conseguir ficar somente com uma mulher é apenas uma desculpa para quem nunca se apaixonou de verdade, no entanto, agora meu irmão mais velho se apaixonou e vive vinte e quatro horas por dia pensando nela. Ela, que até semana passada, era apenas sua amiga, com quem estava junto sempre e ele nunca havia pensando, mesmo todo mundo insinuando, que poderia ser mais do que uma amiga. Ela, que teve coragem de dizer ao meu irmão mais velho, quando ele tentava juntá-la com um outro amigo, de que era dele de quem ela gostava (aplausos à sua coragem, cunhadinha. Cunhadinha? Claro! A namorada do meu irmão mais velho só pode ser minha cunhada, não é assim?). É nela que meu maninho vive pensando...

Por acaso já conhecem essa história de amizade virar namoro? Penso que sim, pois esta não foi a primeira e nem será a última, mas precisava lhes dizer, porque esta história é tão bonitinha... (suspiros...)






Agora maninho, faz favor de tomar jeito e deixar isto “que é mais forte do que você” de lado, ouviu?




Danielly Ziroldo

O SEGREDO DO MEU IRMÃO MAIS VELHO


Durante os últimos nove anos, fui ganhando, aos poucos, um irmão mais velho, quem, por causa de um mês, nem é mais velho do que eu e muito menos nasceu da mesma barriga da qual eu nasci.

Como entre irmãos sempre há conflitos e desavenças, entre este meu irmão mais velho e eu, não poderia ser diferente. E a razão é toda minha, é claro!

Este irmão mais velho, que fui ganhando aos poucos, adora me dedurar no trabalho. Quando comecei a namorar, em uma conversa um tanto que descontraída, ele, “sem querer” (tem certeza que quer que eu acredite nisso?), abriu a boca. Não que o namoro fosse segredo de estado, mas, para mim, é um tanto constrangedor ter que ouvir um monte de mulheres fazendo milhares de perguntas sobre a história do namoro, o namorado, enfim, sobre tudo. (Até hoje vivem jogando na minha cara que se não fosse o meu irmão mais velho, elas nunca ficariam sabendo do namoro. Será? Ei maninho, por que você tinha que contar?)

O caso do namoro foi perdoado, entretanto, sobre o caso da aliança, tenho certeza que ele fez de propósito. Nem lhe disse nada (se dissesse, sabia que ele iria contar) e nem foi preciso, jogou verde e colheu maduro (Por que será que tenho que ser sempre tão bobinha?!) e desta vez o turbilhão de perguntas curiosas foram a respeito de toda a história que cercava a aliança que ganhei... E o pior de tudo, é que este meu irmão mais velho ainda me entrega para meu namorado, contando-lhe todas as vezes em que deixo de usar a aliança! (Já está decidido! Sábado estarei na academia para começar as aulas de Karate e te aconselho a não ficar muito perto de mim nos treinos, ouviu?)

O mais engraçado nesta relação entre meu irmão e eu, é que ele usa o poder que a palavra “mais velho” lhe concede, mesmo sem o ser, para espalhar ao mundo tudo sobre mim (até aquilo que não lhe conto) e, em contrapartida, não me conta nada dos seus segredos (acho que ele tem medo de me tornar vingativa).

E como ele não me diz nada, fico cutucando, cutucando e não é que deu certo! Hoje descobri um segredo dele! Através de tanta cutucação e observação de suas atitudes, descobri o que ele vinha tentando esconder faz algum tempo. E como ele soube que eu já sabia, não teve como me esconder mais, a solução foi me confessar.

Sua sorte maninho, é que não sou “boca aberta” (como certa pessoa que eu conheço), e, por isso, não vou sair pela cidade contando este seu segredo.

Contento-me em contar apenas para o pessoal aqui do blog...

*

Ei, pessoal, venham aqui bem pertinho... Vou falar baixinho, pra ele não ficar muito constrangido, ok?

Sabem o que é... Adivinhem!


Ele está apaixonado...

*

Pronto! Falei. E o que tá falado, tá falado e não tem mais como “desfalar”...


Não lhe disse que falaria?




Danielly Ziroldo

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

MEU PRESENTE ESPECIAL PARA VOCÊ



Ontem, resolvi ir à rua do comércio, destas ruas que existem em todas as cidades, para lhe comprar um presente, afinal, hoje é o seu aniversário e não poderia deixar este dia passar em branco. Nas diversas lojas pelas quais passei, mostraram-me inúmeros presentes: jóias, roupas das marcas mais famosas, casas e carros luxuosos. Infelizmente, tudo isso era muito caro e mesmo querendo lhe dar o que há de melhor, eu não tinha dinheiro suficiente.

Já estava voltando para casa, cabisbaixa, quando vi uma linda rosa na vitrine de uma floricultura, resolvi entrar, ao saber o preço, não pude disfarçar meu sorriso de felicidade: A rosa, eu poderia comprar!

Enquanto a vendedora enfeitava a rosa com um laço que combinava com sua cor, me perguntou se entregaria o presente ainda naquele dia. Disse-lhe que não, que o seu aniversário era hoje, mas só entregaria o presente no sábado, porque você morava longe e apenas neste dia poderia te encontrar. A moça, que antes me sorria, me olhou com uma cara de preocupada e sem me perguntar nada, devolveu a rosa à vitrine. Não entendi o seu gesto, afinal, eu iria pagar por aquela rosa, que seria meu presente para você!

Ela voltou-se para mim e disse:

- Menina, desculpe, mas eu não posso lhe vender esta rosa, porque quando você for entregá-la para sua amiga, já estará murcha e feia, tenho certeza de que ela não gostaria de receber um presente assim.

A vendedora tinha razão, como poderia lhe dar uma rosa murcha? Nem tive como argumentar... Fui embora, triste, pois já era tarde e ainda não tinha nenhum presente para lhe dar.

À noite, estive pensando... Quem será que poderia me ajudar a escolher um presente especial para minha amiga?

Pensei, pensei e lembrei-me de Deus. Quem sabe, Ele pudesse me ajudar. Fechei os olhos e comecei uma oração: "Papai do céu, tenho um grande problema e preciso muito da sua ajuda, amanhã é o aniversário da minha amiga Adirene e não sei o que lhe dar de presente, e já que o Senhor sabe de todas as coisas, talvez possa me dar uma idéia..."

Por alguns minutos só ouvi o silêncio, até achei que Deus não pudesse me socorrer. Estava quase adormecendo, quando Ele falou comigo: "Minha filha, tenho certeza de que sua amiga ficaria muito feliz com qualquer presente que você comprasse, entretanto, há coisas muito mais importantes que poderia lhe oferecer, as quais não existe em nenhuma loja das ruas do comércio... Você poderia lhe oferecer sua amizade sincera, seu carinho, seu ombro para os dias em que ela precisasse de alguém para se apoiar, seu abraço para os dias em que se sentisse só, seu sorriso para os dias em que estivesse triste e para os dias de alegria, a sua alegria sem inveja..."

- Senhor, mas sempre procurei lhe oferecer tudo isso...

- Tenho certeza que sim, – continuou Deus - contudo, estas coisas precisam ser renovadas e precisam ser mais do que apenas palavras, precisam ser demonstradas todos os dias, nunca é demais, e o dia do aniversário, é um dia especial, por isso penso que estes seriam bons presentes, os quais não acabarão, não sairão de moda, nem perderão a utilidade. São presentes que poderão ser guardados para a vida inteira...

Depois disso, Deus não me disse mais nada e nem foi preciso, entendi o que Ele quis dizer...

Por isso, neste dia especial, gostaria de renovar contigo minha amizade, dizer que você tem meu ombro para quando precisar de alguém para se apoiar, tem meu abraço a sua disposição, tem meu sorriso e minha alegria sem inveja para quando coisas boas lhe acontecer...

Minha querida amiga, fico muito feliz por Deus ter-lhe colocado em minha vida e espero que sempre esteja presente, mesmo na distância...

Ps.: Acho que amanhã voltarei a rua do comércio para ver se a moça tem uma rosa especial, uma rosa que nunca murche, para que assim, eu posso lhe presentear...

FELIZ ANIVERSÁRIO!!!

NEQEAV

25/09/2008


Esta mensagem é dedicada à minha querida amiga Adirene G. M. Santos...


Danielly Ziroldo

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

QUEM É ELA, MAMÃE?



- Oi “Mim”!

A menininha me olhou inteira, da cabeça aos pés, com uma carinha desconfiada e um tanto receosa. Foi andando de costas e olhando para mim, até que se aproximou das pernas de sua mãe.

-Quem é ela, mamãe?

A mãe não disse nada, mas pela sua expressão adivinhei que ela parecia também não saber.

Não me surpreendia esta sua falta de memória, nem poderia culpá-la, era tão pequenina... Fiquei com eles tão pouco tempo, apenas alguns meses e depois segui outro caminho, fui embora, sem ao menos me despedir.

Quanta ingratidão a minha! Alguns davam tantas demonstrações de carinho e eu, simplesmente fui embora, fui cuidar dos meus interesses e nem tive tempo de me despedir. Talvez nem se importaram ou nem sentiram a minha falta e hoje, quase três anos mais tarde, já nem se lembrem mais de mim... Eu também quase não me lembro deles...

No entanto, dela eu me lembro, acho que deve ser porque era tão pequenina (a menor de todas), era tão carinhosa e vivia grudada na gente... Nada pode ser mais gratificante do que o amor oferecido por uma criança, um amor de um interesse tão inocente, que talvez nem possa ser considerado interesse e passa a ser, apenas, inocente...

Por alguns segundos, continuou me olhando... Saiu de perto das pernas da mãe e deu alguns passos em minha direção, agora não tinha mais desconfiança em seu rostinho, havia somente curiosidade. Deveria estar se perguntando quem era aquela mulher que lhe sorria e sabia seu nome.

Aproximou-se sorrindo, então, lhe sorri mais uma vez e como ela parecia não saber o que dizer, mesmo sem jeito, eu lhe disse...

- Oi “Mim”, você não lembra mais de mim? – perguntei já sabendo a resposta.
- Não. – respondeu-me espontaneamente e ainda sorrindo.
- É que você era pequenina assim... – mostrei-lhe com minha mão a altura que deveria ter.

Mesmo não se lembrando mais do meu rosto, continuou sorrindo. Instantes depois, corria atrás da mãe que se perdia em meio ao aglomerado de pessoas. Enquanto corria, olhava para trás, sorria e seus olhos pareciam me dizer: “Acho que sei quem é você, só que não me lembro agora, mas vou lembrar...”



Danielly Ziroldo



sábado, 20 de setembro de 2008

Caso Estrada Boiadeira – Capítulo 40


Em comemoração aos quarenta anos da idealização da pavimentação da Estrada Boiadeira, escrevo o quadragésimo capítulo do Caso Estrada Boiadeira.

“Como assim quadragésimo capítulo? O que aconteceu com os outros trinta e nove?”

Pessoal! Muita calma nessa hora. Vamos por partes.

Primeiramente, tenho que confessar: não existem outros trinta e nove capítulos sobre o Caso Estrada Boiadeira, quer dizer, ainda não existem!

Eu só achei que seria interessante se alguém tivesse escrito ao menos um capítulo por ano, desde que a estrada foi idealizada. Pensem, já teríamos um livro! Mas como ninguém se lembrou de escrever sobre isso (ou alguém lembrou?), vamos fazer de conta que há outros trinta e nove capítulos perdidos por aí, isso mesmo, perdidos pela estrada, como um tesouro enterrado e já que eles estão escondidos e ninguém os encontrou ainda, escrevo o quadragésimo capítulo, para combinar com os quarenta anos.

A história é a seguinte, hoje, ouvi na rádio local da minha cidade uma entrevista, com alguém importante de um departamento de construção de estradas, a respeito da Estrada Boiadeira e os quarenta anos que já se passaram desde o seu início até os dias atuais. Imagino que, provavelmente, devam estar se perguntando: “Mas qual o problema da estrada?”; “Será que a pavimentaram há quarenta anos e esqueceram que ela existe e por isso está toda esburacada?”

Bem, preciso lhes dizer que o problema é pior do que apenas buracos. Lembram que usei no início a palavra “idealização”? Pois é, é isso mesmo o que vocês estão pensando: tudo não passou de uma idéia, ou seja, a estrada nunca foi pavimentada!!! (Pelo menos, não a parte da estrada que eu conheço...)

Afinal, o que são quarenta ou, quem sabe, cinqüenta anos?

Deixando os quarenta ou cinqüenta anos para lá, voltemos para a estrada. Para quem não sabe, a Boiadeira é uma estrada que liga algumas cidades aqui da região, apesar de ouvir falar dela desde que nasci, principalmente em época de campanha eleitoral, não sei praticamente nada a seu respeito, nem onde começa, muito menos onde termina. E a explicação do seu nome, ele mesmo nos diz.

(O que? Se já fui buscar outra explicação para a denominação Boiadeira? É claro que já fui!!! Vocês acham mesmo que eu, com toda esta fértil imaginação, não iria buscar alguma história fantástica que tentasse explicar o motivo de lhe terem batizado assim? Pois bem, fui, mas tive que me contentar com a história dos bois que passavam por lá...)

Sinceramente, para mim, a Estrada Boiadeira significa o seguinte: Primeiro, a estrada de chão aonde fomos fazer algumas expedições nas aulas práticas de biologia na época do colégio (sabem, tenho boas recordações daquele tempo) e, segundo, a estrada que começaram e nunca terminaram e que tem sempre alguém dizendo que vai concluir.

Contudo, de acordo com o que ouvi no rádio hoje, muito em breve, a Estrada Boiadeira estará pavimentada, portanto, sua pavimentação natural, feita do solo destas terras, passará a ser apenas uma boa recordação, com um misto de alívio e saudade, para alguns milhares de pessoas...

Só fico pensando em uma coisa, se isso realmente acontecer, o que será que vão prometer nas próximas eleições?


Danielly Ziroldo



quinta-feira, 18 de setembro de 2008

ELA É ASSIM...

Quem a vê de longe e pela primeira vez, imediatamente, a considera meio doidinha (essa foi minha primeira impressão). Todo o seu falar desenfreado, sem medir as palavras e a altura de sua voz, toda a sua presença notada a quilômetros de distância, toda a sua maneira de transformar, de um minuto para outro, pessoas quem nunca viu em amigos de longa data... Assim é ela, pelo menos aos meus olhos, ela me pareceu ser assim e que bom que ela é assim e nos cruzamos naquele dia.

Se você tirou a primeira habilitação agora, vai entender melhor o que vou dizer. Quando iniciamos o processo para obter a CNH (Carteira Nacional de Habilitação), passamos por três ou quatro testes (isso vai depender se vai fazer para carro e moto ou para apenas um dos dois) e passar por testes é sempre uma “tortura” psicológica tremenda para a maioria das pessoas. Aquela espera interminável, os olhares aflitos de todos os candidatos a sua volta, que se juntam ao seu, o frio que nos congela o estômago, a inquietação que não nos permite ficar parados, o tremor que toma conta de todo nosso corpo e o causador de quase tudo: o medo de não passar.

Vou pular os angustiantes dias do psicotécnico, da legislação e do teste prático de carro e ir direto ao teste prático de moto para falar um pouquinho dela.

Já um pouco experiente e aliviada por ter passado no teste de carro alguns dias antes, segui para o DETRAN, não menos nervosa, para o tão esperado teste prático de moto. Ao chegar lá, nenhum um rosto conhecido, o que me deixou mais apavorada. Mais tarde ela chegou, mesmo a achando um pouco doida, de alguma maneira me senti mais tranqüila. Então ela começou a falar, falar, a rir e quando me dei por conta já estava tão mais calma e rindo também, que fazer o teste agora não me seria tão penoso.

Seguimos em fila indiana ao “matadouro”, todos com a mesma aflição e medo, o que nos tornou solidários uns para com os outros. Desejávamos boa sorte para quem ia, torcíamos silenciosamente para que tudo saísse perfeito, nos entristecíamos quando alguém não passava e nos alegrávamos e parabenizávamos quem recebia um sinal de positivo, um sinal de que estava apto.

Era a vez dela, tudo saiu perfeito e com tanta felicidade nos abraçou. Chegou minha vez, estava feliz por ela, pelos que já haviam passado e aflita com os que haviam reprovado, por temer desequilibrar na prancha também.

Assim segui para a hora da verdade, não tão nervosa como no último teste, pois ela estava ali com o seu falar desenfreado, sua presença marcante, sua maneira de transformar pessoas que nunca viu em amigos de longa data. Quando terminei o percurso e desci da moto mal consegui permanecer em pé, de tanto que minhas pernas tremiam e ainda havia a incerteza do resultado, mas o parabéns que recebi dela e o abraço, me fez sorrir e colocou fim naquela tortura.

Pois é, ela é assim e espero que continue sendo assim para sempre, mesmo que de longe a considerem meio doidinha...
.
Danielly Ziroldo

Ei, Você! Você Mesma, Falo De Você...

Não sei se você irá ler este texto, mas se porventura isso acontecer, leia com atenção, principalmente, nas entrelinhas, pois irei falar de você, mas não direi seu nome. Não sou de dizer nomes, como você, tão espontaneamente e sem desagradar os donos dos nomes, diz. Como ainda não sou muito boa com as palavras, se eu ousasse dizer nomes, poderia criar desafetos (por não me compreenderem), antes mesmos, deles se tornarem meus afetos.

Entretanto, vamos deixar essa questão de nomes para lá e vamos voltar a você, sim, você mesma. Não sei como explicar, mas o fato é que você me intriga, quer dizer, suas palavras me intrigam, porque para mim você é apenas o que suas palavras dizem, por isso corro um grande risco ao dizer que você me intriga, pois você pode não ser o que suas palavras me dizem ser, então precisaria lhe conhecer para saber quem realmente me intriga: você ou apenas suas palavras. Mas como não vamos nos conhecer, ficou decidido de que é você quem me intriga, já que para mim, você é as suas palavras.

Sei que deve estar pensando que estou apenas enrolando, por isso vamos direto ao ponto. Resolvi te ler depois que alguém citou seu nome e continue te lendo. Preciso dizer-lhe que tenho a impressão de que peguei você pela metade. Sabe quando passamos em frente à TV e pegamos um filme pela metade? E por estar tão interessante sentamos no sofá e ficamos ali, tentando juntar as partes ou começamos a perguntar o que aconteceu para quem estava assistindo desde o início? Como não tenho para quem perguntar (talvez até tenha, mas não ousaria fazer isso) fico aqui tentando juntar as peças, como num quebra-cabeça, para tentar te desvendar e te entender. Penso ser esta a única maneira de você não me intrigar mais.

Provavelmente, me diria que este problema é fácil de resolver: basta começar a ver o filme desde o começo.

Nem posso lhe dizer: “por que não pensei nisso antes?”, porque, pra dizer a verdade, já pensei. Então por que ainda não fiz isso? É simples, se eu começar a ver o filme desde início agora, isto significa que vou ter que parar de ver de onde estava vendo e, sinceramente, a minha curiosidade não permitiria que eu perdesse o desenrolar desta história (que espero não ter fim), mesmo que eu tenha que inventar as partes que perdi.

Sabe, se estivesse vendo o filme desde o começo, talvez você não me intrigasse tanto e o prazer de te ler (mesmo sem entender metade) não seria o mesmo (quero que fique bem claro que o prazer não deixaria de existir, no entanto, perderia este ar de mistério) e, com certeza, não estaria escrevendo um texto que não diz nada com nada (que poderia ser resumido em um comentário em sua escrivaninha: você me intriga...), o qual ainda nem sei se vou publicar, para você, quem nem disse o nome e por causa disso, daqui uns 100 anos, poderá morrer sem saber que falava de você ou pior, talvez nem chegue ao seu conhecimento que escrevi um texto que falava de você.

Se estivesse vendo o filme desde o começo, nem poderia ficar me perguntando o que/quem são e como surgiram as suas criações, não que eu não queira saber, mas é um querer não querendo, se é que me entende...

Ah, antes de ir almoçar e ficar pensando se posto ou não o texto, tenho que lhe contar que por sua culpa tive um sonho muito doido esta noite. Lógico, se eu contar o sonho, você irá saber que falo de você, então é melhor deixar pra lá...

Ps.: Se por acaso sentiu a falta de alguém esta noite é porque estava aqui, perdido no meu sonho.

Danielly Ziroldo

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

COISAS QUE NÃO POSSO ENTENDER

Há tantas coisas que acontece no mundo, as quais não sou capaz de entender, muito menos explicar. Perco horas pensando, pensando e procurando algumas respostas, no entanto, a conclusão sempre é a mesma: acho que as respostas não existem .

Não entendo, por exemplo, como apenas um olhar me faz amar ou odiar uma pessoa, sei que deve ser pré-julgamento da minha parte, mas por que isso acontece? Preconceito? Um olhar é tão pouco, mas, às vezes, é como se ele dissesse tanta coisa (será mesmo que diz? ou será coisa da minha imaginação?).

Não entendo como me torno admiradora incondicional de pessoas com as quais nunca troquei uma palavra; como outras me causam arrepios e sinto vontade de me esconder só de vê-las; como posso amar e odiar, admirar e temer, ao mesmo tempo, uma única pessoa; como amo pessoas que não sentem absolutamente nada por mim e como outras me amam e aí, sou eu quem não sente absolutamente nada.

Não entendo como posso não amar quem me daria sua vida, se esta fosse minha vontade.
Não entendo como o encanto, o amor ou a amizade por alguém pode acabar, assim, de repente. Será que os sentimentos não eram verdadeiros? Impossível, porque os senti no fundo da alma! Então, provavelmente, foi a minha imaginação que quis transformar uma pessoa de carne e osso em um ser perfeito. Se este é o motivo, por que desta não aceitação da imperfeição das pessoas se eu também sou imperfeita?

Não entendo o que impulsiona algumas pessoas a serem tão legais comigo, enquanto outras me são tão hostis.

Não entendo o poder e como as pessoas mudam por causa dele. É como se um cargo, um título, uma única palavrinha outorgasse poderes especiais a quem a possui e o tornasse imortal e inalcançável.

Não entendo o que querem dizer algumas músicas, filmes, poemas, crônicas ou contos, porém, os acho tão lindos e mesmo sem entender, ainda são capazes de me arrancar lágrimas.
Não entendo quando o coração aperta, os olhos se enchem de lágrimas e mesmo sentindo uma dor angustiante, não sou capaz de explicar os motivos desta agonia.

Não entendo muitas das minhas atitudes, seria tão mais fácil agir de outra forma, entretanto, quando me dou conta disso, já é tarde e resta-me somente o arrependimento.

Não entendo o arrependimento, mesmo quando não fiz nada de errado, ele surge, me fazendo sentir-se culpada por me defender, por dizer o que sinto ou por fazer o que sempre tive vontade. Por causa dele, fico quieta quando me ferem, deixo de dizer às pessoas o que se passa em meu coração (por vezes coisas tão simples para mim, mas que poderiam ser tão importantes para o outro) ou fico apenas na vontade...

Não entendo a política.

Não entendo os homens e as mulheres.

Enfim, não me entendo e ainda exijo que me entendam.


Danielly Ziroldo

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Quem nos entende?


Às vezes, tenho a sensação de que ninguém me entende, quer dizer, acho que talvez vocês me entendam, no entanto, o resto do mundo não nos entende.

Deixem-me explicar, antes que vocês passem a não me entender.

O que será que ninguém entende? Bem, ninguém entende o que estou fazendo agora, o que vocês fizeram não faz muito tempo ou vão fazer daqui a pouco. Ninguém entende esta necessidade quase incontrolável de transformar em palavras tantos pensamentos, sentimentos, ou as nossas loucas viagens imaginárias.

Ninguém entende quando permanecemos por horas na frente do computador, principalmente, quando deixamos algo por fazer e corremos para a nossa querida página do Word ou para uma caneta e um pedaço de papel.

Como não nos compreendem, nos gritam, justo no momento em que estamos quase encontrando aquela palavra, aquela que procuramos por horas; então exigem nossa atenção para alguma coisa sem muita importância e quando voltamos para o texto, a palavra se perdeu novamente. Se respondemos de forma “mal educada”, nos compreendem menos ainda e como se fôssemos as piores pessoas do mundo, despejam um turbilhão de palavras que caem como pedras em nossas cabeças, nos desnorteiam e já não somos capazes de refazer o que em alguns minutos atrás estava perfeito em nossas mentes.

Ninguém entende se permanecemos acordados até de madrugada ou se demonstramos impaciência quando nos procuram para conversar ou se pedimos que não nos incomodem por alguns momentos, nossos tão amados momentos de silêncio e solidão.

Como não nos compreendem , nos julgam e passamos a ser viciados em internet, anti-sociais, mal-humorados, solitários ou pior, somos rotulados como aquele que vive com a cabeça no mundo da lua.

Alguns, quando vêem nosso trabalho pronto, nos admiram, desejam ser como nós, mas no fundo, bem lá no fundo, ainda não nos entendem. E como é angustiante perceber que ninguém te entende!

Sabem por que não nos entendem? Porque ainda não experimentaram sentir o que sentimentos, ver o que vemos ou transformar em palavras o que passam por suas mentes.


Espero que ao menos vocês me entendam...


Danielly Ziroldo



Quando o amor é cego


Quando o amor é cego
Torna-se egoísta
Pretende amarrar a si um outro amor
Quando o amor é cego
Não percebe o não amor do outro
E o ama, com toda sua dedicação, o ama
Quando o amor é cego
Sufoca o ser amado
E com algemas de prata o prende
Quando o amor é cego
Lentamente, mata
Lentamente, morre...


Danielly Ziroldo

Versos de amor apenas por esta noite


Por toda esta noite recitei versos
Versos que não me pertencem
Versos que ainda nem foram escritos

Por toda esta noite recitei versos
Versos que sei falarem de amor
Versos que já não me recordo

Por toda esta noite recitei versos
Para uma platéia inventada
Imaginando ver entre ela seus traços

Por toda esta noite
Transfigurei-me em poesia
Para verbalizar um sentimento
Que em meu peito cala...


Dany Ziroldo

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O OUTRO LADO DO MUNDO (Ale Alves feat. Dany Z.)



Alguém me salve... alguém pode me salvar?;
Se estivesse aqui, será que eu poderia voar?;
Queria sair desse mundo, e te levar para o meu...;
Mundo mau ou mundo bom... dois mundos: sou eu?


Se eu tivesse asas, lhe emprestaria
Se estivesse aí, te salvaria
Todas as tuas dúvidas, solucionaria
Apenas para você, um mundo inventaria


Usaria essas asas, assim eu voaria;
Num mundo, onde quem sabe uma história eu inventaria;
Viver num mundo à salvo, onde sem dúvidas viveria;
Saber que tenho você... a salvo, comigo... lá, te amaria;


Sem receios, esse amor aceitaria
Neste mundo, nada nos alcançaria
Dúvidas? Dores? Ali não existiria
Mas se houvesse perigos, eu te protegeria


Se esse mundo pode existir, vamos torná-lo real;
Usar um par de asas, voar juntos, ter o corpo de metal;
Sem dores, sem dúvidas... com poderes sem igual;
Que tenha perigo, que tenha ousadia... tudo seria sensacional


Estou pronta, esperando apenas por você
Para embarcarmos para este mundo que ninguém vê
Nosso mundo de sonhos e encantos
Nosso mais doce e belo recanto


* Estes versos são o início de uma parceria, que esperamos, sinceramente, que nunca finde...

Alexandre Castro Alves
e Danielly Ziroldo

sábado, 13 de setembro de 2008

A PORTA-VOZ


Se tivesse que optar por uma palavra que a definisse, com toda a certeza, escolheria espontaneidade. Penso ser esta, a melhor palavra já inventada para adjetivá-la. Ela é, simplesmente, espontânea. Diz o que pensa e o que sente no exato momento em que os pensamentos e sentimentos lhe surgem. Provavelmente, este adjetivo traga-lhe alguns contratempos, como soltar uma ou outra palavra que não deveria ser dita naquele momento em especial; provavelmente, já deve ter passado como louca, atrevida ou petulante aos olhos dos demais, no entanto, precisamos concordar que de alguma forma invejamos não possuir ao menos um terço de sua espontaneidade.

Por sorte, é que além da palavra espontaneidade, também inventaram a palavra porta-voz, então, ela surge assim, como nossa porta-voz. Aquela que verbaliza nossos pensamentos e sentimentos, justo nas horas em que o silêncio reina e a expressão de cada rosto não é mais capaz de disfarçar o que se passa por nossas mentes e corações. É verdade que pensamos, sentimos e, principalmente, sabemos que o que nos inquieta, nos inquieta coletivamente, no entanto, ninguém ousaria dizer. Falta-nos a tal da espontaneidade.

Alguns nunca admitirão que pensam e sentem o que ela verbaliza, pois, como dizem por aí, a verdade, por vezes, é mais dura do que pedra e dizê-la, pode parecer indelicado e de uma falta de educação tremenda. Talvez as boas maneiras nos tenham ensinado a não falar de boca cheia, mas, às vezes, temos vontade de fazer exatamente o contrário, pois se não falarmos exatamente naquele momento (que por um capricho do destino, nossa boca está cheia), parece que nossas palavras não terão mais tanto sentido.

Contudo, como aquilo que nos falta, lhe sobra; silenciosamente, a elegemos como nossa porta-voz. E aos pouquinhos, ela vai nos fazendo rir e vai nos aliviando com suas palavras, que indiretamente, também são nossas...


Danielly Ziroldo

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Reflexões sobre o que ser quando crescer


Ao querido amigo Alexandre Castro Alves, em resposta às suas reflexões.





“Reflexões a respeito de ser contador (a) de histórias...


Bom... se você me perguntasse, hoje, o que eu gostaria de ser quando crescer, eu poderia ser contador de história... motivo: eu poderia ser quem eu quisesse ser, no mundo em que eu quisesse... defender as pessoas que eu quiser, fazer de vilões quem eu desejasse... Poderia voar, ter força, ser imortal...; poderia viver em um país melhor, ou pior, desde que eu fosse o herói... hehehe... melhor dizendo: eu seria o herói! Afinal... eu contaria a história!Talvez eu quisesse ser contador de histórias também...
Pensando assim...!
Mas no fundo... eu quero saber o motivo do porque você poderia ‘ser contadora de história quando crescer’...”


Alexandre Castro Alves


***


Já se você me perguntasse o que eu gostaria de ser quando crescer, diria que poderia ser contadora de histórias, e por um, ou melhor, dois simples motivos: para encantar e levar sonhos através das minhas histórias. As minhas justificativas se resumem em duas palavras, mas nem por isso, são tão diversas das que você imaginou.

Para encantar e levar sonhos, precisaria deixar de ser quem sou por alguns breves instantes (temos que concordar que quase sempre somos monótonos demais e o encanto e o sonho não se encontram na monotonia), precisaria, enfim, me transformar na heroína de algumas histórias, na vilã de outras ou quem sabe, ter o poder de voar, ser forte e quase indestrutível como a “Super Mulher” (penso que os heróis nunca serão totalmente indestrutíveis, pois só há emoção nas histórias se houver a criptonita para ameaçá-los por vezes, para que assim, possam superá-la e mostrar ao mundo porque lhes chamam heróis).

Para encantar e levar sonhos, precisaria ser capaz de fazer com que você, eles e elas acreditassem, por alguns breves instantes, que poderiam ser o que desejassem ser, que poderiam mudar o mundo, que ainda poderiam ter esperanças e, principalmente, poderiam sonhar...

Penso que não deve ser uma tarefa simples se tornar um(a) contador(a) de história. Precisamos de magia, dom e, principalmente, sermos sonhadores, no entanto, sonhadores com os pés no chão, para não transformar em loucura o que era para ser apenas encanto e esperança...

Ainda não sei se tenho os ingredientes necessários para me tornar uma contadora de histórias, entretanto, espero descobrir isso em breve, assim que eu crescer...



Danielly Ziroldo

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A CONTADORA DE HISTÓRIAS


A maneira como cativa todos os que a ouvem é esplêndida! Adultos, que já não são mais crianças, por um momento (a duração exata de uma história) transformam-se novamente em meninas e meninos.

Tudo nela parece estar em plena harmonia: os gestos, a voz e o olhar.

O encanto daqueles que já não são mais crianças se observa no brilho de seus olhos, que acompanham atentos todos os movimentos e com um abrir de boca, demonstram o tamanho de seu deslumbramento.

Por detrás da simplicidade das suas histórias sempre há um sentido mais complexo e único para cada um que a ouve, sentido este que vai além de qualquer explicação, por mais elaborada e baseada em famosas teorias filosóficas, que esta possa parecer.

Por acaso, acreditam naquela palavrinha chamada “DOM”? Espero que sim, pois esta é a palavra perfeita para definir o que ela faz. Dom de contar histórias, dom de transformar adultos com o peso do mundo nos ombros em crianças despreocupadas e esperançosas, dom de encantar, simplesmente, encantar.

Sobre a sua história? Bem, desconheço. Sei apenas o que se passou depois do momento em que ela entrou por aquela porta, transformou a sala de aula em um lugar de sonhos e sem que ninguém esperasse nos deu uma estrela que brilha apenas para nós, nos ofereceu carinhos quentes, nos falou sobre o significado de saudade da maneira mais bela que já ouvi e se despediu dizendo: NEQEAV...

Isso mesmo! Despediu-se com NEQEAV, uma palavra que a princípio parece ser apenas uma junção despropositada de letras, mas que possui um significado primoroso, que só quem ouviu e se emocionou com a história poderia entender e talvez tentar explicar.

...

Sabe, ainda não sei quais foram as suas “reflexões” a respeito do fato de me fazer querer ser uma contadora de histórias e, provavelmente, elas não tenham nada a ver com o que estou dizendo, no entanto, a única coisa que porventura possa justificar isto, penso que seja o encanto que me invadiu ao ouvir suas histórias, encanto que me fez querer, assim de repente, levar o sonho e a esperança às crianças e aos adultos por meio de simples, nem por isso menos complexas, significativas e belas, histórias...



Danielly Ziroldo


terça-feira, 9 de setembro de 2008

QUERO SER QUANDO CRESCER


Ao encontrar uma criança, é quase inevitável deixar de lhe perguntar o que quer ser quando crescer, é como se soubermos e elas souberem disso, pudéssemos movimentar alguns pauzinhos para tornar este sonho realidade, como se aquele sonho de criança, fosse um sonho para a vida inteira.

Não digo que um sonho de criança não possa se tornar um sonho para a vida inteira, mas é mais provável que ele se transforme, da mesma forma como nos transformamos conforme vamos crescendo e conhecendo o mundo.

Lembro-me de que no pré, quando me perguntavam o que queria ser quando crescer, de que dizia toda feliz que seria professora. Alguns anos mais velha, influenciada pelas Chiquititas (lembram da novela Chiquititas?, pois é, não perdia nenhum capítulo) queria, porque queria, ser cantora e atriz (é verdade que não levava o menor jeito, mas criança não sabe destas coisas).

Mais tarde, quando conheci a poesia, quis fazer-me poeta. Depois, quis ser advogada e nesse monte de querer ainda quis ser jogadora de futebol. E sobre ser professora, será que havia esquecido? Bem, naquela época esta idéia era inaceitável, no entanto, mudar de idéia quando criança não é difícil. Passada a fase advogada (sobre a fase jogadora de futebol, acho que esta nunca passou), voltei a querer ser professora, só não tinha certeza sobre o que ensinar: matemática, português, inglês, educação física? (Quantas coisas para escolher e nos exigem que façamos isso tão cedo!)

É, escolher o que ser quando crescer é uma tarefa muito complicada. Sobre mim, só sei que as coisas foram acontecendo, acontecendo e por fim, ficou decidido que seria professora. Porém, um dia apareceu uma tia aspirante a jornalista e não foi preciso mais para que deixasse novamente de querer ser o que já estava decidido.

O tempo passou e depois de tantos sonhos, depois de querer ser tantas coisas, descobri os meus não talentos para arte de cantar e encenar; descobri que ser poeta não é tão fácil e ainda não consegui me tornar uma; que as leis eram muito chatas de serem estudadas; que era um tanto perna de pau e nunca teria habilidade suficiente com a bola; que ser jornalista me está muito distante. Então, estudei para ser professora (o primeiro dos sonhos), contudo, o mais perto que cheguei disto, por enquanto, foi ter um diploma na mão (engraçado, só depois que o temos, descobrimos que não significam tanto quanto achávamos que significavam).

Sabem, se me perguntassem hoje o que gostaria de ser quando crescer, sinceramente, não sei o que responderia, talvez dissesse que queria ser contadora de histórias (espero que não queiram saber o motivo).

Minha sorte é que ainda não cresci...

E você, o que quer ser quando crescer?

Danielly Ziroldo

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

DOCE INVEJA*


Comovem-me os passos lentos da velha senhora, enfrentando a ladeira com a convicção de quem ainda possui a força da juventude nas pernas; força, que eu, aos 20 anos, receio já ter perdido.

Não há dia em que não se encontre os castanhos olhos, envelhecidos pelo tempo, mirando o horizonte com o encantamento de uma criança, com quase uma esperança de que se pode alcançar o sol em seu berço, lá nos confins da terra. Basta caminhar em sua direção, caminhar...

Acompanha-lhe o chapéu em dias dominados pelo astro rei; certas vezes, uma toalha para enxugar o suor que insiste em correr sobre a pele enrugada, conseqüência de tantos momentos acumulados durante uma vida. Em dias dominados pelas negras nuvens, acompanha-lhe o negro guarda-chuva; assim, encontram-se em plena harmonia, nuvens e tecido, em meio ao espetáculo da chuva.

Espreito cada movimento por entre as cortinas, escondo-me para que aqueles olhos não percebam a inveja por detrás dos meus, uma inveja inocente, mas nem por isso mais perdoável...
Pudera eu ter a sabedoria absorvida pelos brancos fios de cabelo? Possuir a firmeza do olhar? Enfrentar o mundo com tal disposição?
Não... Sou fraca em minha covardia.

Seguem...
Olhos fixos...
Passos firmes...
Em direção ao horizonte...

E uma doce inveja por detrás das cortinas...


Danielly Ziroldo


* Texto publicado no Recanto das Letras em 13/06/2007

“A dona vai na frente e a música vai atrás”


Não sei dizer ao certo de onde aquela senhora surgiu, sei apenas que enquanto caminhava por uma das tantas avenidas que existem por aí, ela virou uma esquina e nos encontramos. A senhora caminhava lentamente, demonstrando muitas dificuldades no caminhar, com uma capelinha na mão, destas pequenas de madeira com Nossa Senhora, em que nos grupos de reflexões permanece por um breve período em cada família. Provavelmente, a capelinha já havia permanecido o tempo determinado em sua casa e agora a levava para sua próxima morada. E no cumprimento de seu dever, nos encontramos.

A princípio, apenas nos olhamos. Senti que ela queria puxar conversa, no entanto, abaixei a cabeça e segui (perdoem-me a falta de delicadeza, sei que não custava nada cumprimentá-la, mas tenho certas atitudes que não posso explicar), segui com meu violão nas costas para a árdua tarefa de tentar aprender a tocá-lo. Ela ia com a capelinha e eu com o violão.

Parecíamos seguir para a mesma direção, uma a alguns passos a frente da outra, ambas caladas e ao mesmo tempo desejando estabelecer um diálogo. No entanto, o que eu poderia dizer-lhe? Oi, como vai a senhora? (Talvez pareça simples assim, mas quando o assunto são relações humanas, as coisas são muito mais complexas) Bem, poderia ter dito isso, porém era muito pouco. Poderia, então, perguntar-lhe a respeito da capelinha, mas as únicas perguntas que me vinham à cabeça já conhecia as respostas e não fazia sentido perguntar algo que já sabia.

Aproximávamo-nos de nossos destinos (o dela ficava apenas a dois passos do meu) e seguíamos mudas.

Mais um passo foi dado e, enfim, o silêncio se quebrou.

- A dona vai na frente e a música vai atrás.

A senhorinha encontrou a frase perfeita para puxar uma conversa. Sorri e foi preciso apenas o sorriso para dizer-lhe que poderíamos conversar. Diminui o ritmo dos meus passos para acompanhá-la e a passos lentos trocamos algumas palavras (recebi mais do que dei). Chegamos, por fim, aos nossos destinos. Eu para a difícil tarefa de aprender tocar violão e ela para a também difícil tarefa de entregar a capelinha. Entrei e na casa vizinha permaneceu a senhora aos gritos no portão, mas ninguém, além de mim, parecia ouvi-la. Tive a impressão de que ela teria que voltar para casa sem cumprir sua missão inicial.

E nesta tentativa de cumprir uma missão, nos encontramos, nos despedimos e nem sei se ainda lembro-me do seu rosto. Entretanto, sua frase ficou presa aos meus pensamentos: “A dona vai na frente e a música vai atrás”. Talvez suas palavras não queiram dizer mais do que dizem. Se eu for a dona e o violão a música, o violão, realmente, seguia atrás de mim, nas minhas costas. Contudo, pensar que esta frase diz apenas isso é muito pouco para alguém que vive com a cabeça em outras dimensões, que não apenas nesta, a da realidade nua e crua.
A dona poderia ser eu (ou qualquer outra moça), mas a música precisa ser mais do que apenas um violão nas minhas costas. A música é sentimento, ritmo, poesia, emoção; a música é algo inexplicável, que toma conta de nosso ser e nos arranca lágrimas, risos, movimentos, por isso ela não pode ser apenas um violão nas minhas costas.

E não sendo apenas um violão nas minhas costas, devo dizer que a senhorinha equivocou-se em um detalhe ao dizer-me aquela frase. Ela deveria ter-me dito que: “A música vai na frente e a dona vai atrás”. No entanto, não posso culpá-la, afinal, ela nem me conhecia e as aparências, às vezes, enganam.

Seria impossível a doce senhora saber que sou eu quem corre atrás da música...



Danielly Ziroldo


domingo, 7 de setembro de 2008

CONTROLAR OU CONTRARIAR?


Enquanto seguia em direção à casa de minha avó com meu priminho, ele me disse que era preciso “contrariar” a bicicleta para não cair. A princípio, pensei que havia apenas trocado a palavra e com a intenção de fazer com que ele percebesse seu engano, criei várias frases, dando ênfase à palavra contrariar. Frases do tipo: “Você tem certeza de que precisamos CONTRARIAR a bicicleta para não cair?” ou “ O que acontece se eu não eu conseguir CONTRARIAR a bicicleta direito?”

Bem, não deu certo. Ele não havia apenas cometido um engano, realmente acreditava que a palavra certa a ser utilizada (apesar de que eu desconheça quais significados esta palavra possa ter para ele) era contrariar e não controlar, dominar, etc. Ficamos assim, não insisti, muito menos o corrigi, pois não senti necessidade e esta sua troca inocente fez com que meus pensamentos voassem mais longe...

Mesmo inconscientemente, não é que meu priminho poderia estar com a razão?
Deixe-me explicar. Primeiro, o que se entende por controlar? No meu “Dicionário Prático Brasileiro” e acredito que em todos, diz algo do tipo: Exercer o controle; ter o domínio, etc. e tal. Já em contrariar, entre todas as suas significações, temos: fazer oposição a; desagradar, molestar e assim por diante.

Pensem comigo, se alguém está no controle, isso quer dizer, em palavras mais simples, que é ela/ele quem manda. Se ela/ele manda, então tudo será feito conforme suas vontades e decisões. Não que isso seja ruim e desnecessário. Em uma empresa ou em uma equipe, por exemplo, sempre haverá alguém no controle e sua existência é imprescindível para o sucesso de ambos (lógico, isso acontecerá somente se a pessoa com o poder for competente). Entretanto, ao se imaginar que há um controlador, em contra partida, teremos também um ou vários controlados. Estes últimos, se na função de controlados, podem sentir-se, portanto, contrariados (aqui está a nossa relação com as palavras “controlar” / “contrariar”) com as decisões tomadas pela pessoa com o controle, gerando alguns conflitos. Numa instituição, talvez isso não seja muito evidente (ou fazemos de conta de que não existe), até porque há coisas muito mais importantes para se preocupar (como não perder o emprego, por exemplo), que supera qualquer contrariedade.

Para tentar explicar melhor, vamos, então, mudar o foco para uma relação controlar versus contrariar muito mais complexa. Vejamos uma relação amorosa, seja esta, entre marido e mulher ou apenas, entre namorados. Se um dos dois se sentir e se colocar no papel de controlador, o outro terá que, obrigatoriamente, assumir a função de controlado para que esta relação de amor e de ódio se mantenha firme e viva. Assim, se um controla tudo, obviamente, sempre estará contrariando o outro em algumas ou até mesmo em todas suas decisões; a menos que ambos queiram exatamente as mesmas coisas (o que creio que não exista, quer dizer, quando o amor é cego, é bem capaz daquele que não enxerga – por causa do amor - achar que quer exatamente tudo como o outro quer, sem tirar nem por). Mesmo se não formos tão extremos e pensar que o papel de controlador e controlado se alternam entre ambos, ainda assim, teremos a contrariedade de uma das partes (penso que aceitar e superar essa contrariedade devem ser aquilo que chamam de doação do homem e da mulher, para que sua relação não se transforme em pedaços. É inevitável, uma hora ou outra, alguém sempre terá que ceder).

Agora, simplificando tudo, é óbvio que a partir do momento em que se estabelece uma relação de controlador e controlado, sempre teremos um contrariado (e como é difícil aceitar esse papel !!!).

Deste modo, talvez não tenha sido tão equivocada a troca de palavras do meu priminho, pois se ao controlar, eu contrario, então por que não usar contrariar ao invés de controlar?



Danielly Ziroldo