sábado, 30 de agosto de 2008

DOR INCONSOLÁVEL


A mãe tentava consolar a menina, mas o que ela não entedia é que a sua dor era inconsolável. O pai e os desconhecidos também tentavam consolá-la, mas o que todos não entendiam era que a sua dor era inconsolável.

Como alguém poderia entender, se ela mesma não era capaz de explicar? Sentia, apenas sentia, uma dor inconsolável.

Os olhos fundos denunciavam-lhe a tristeza impregnada em todo o seu ser. Todos a olhavam com pena e diziam: "Mas é tão novinha..."

A menina se esforçava, no entanto, não era capaz de segurar as lágrimas, nem de conter os soluços. A mãe se desculpava: “Por favor, desculpem minha filha. Não sei o que há com ela, anda numa tristeza tão profunda... Me disseram que é depressão, estou tão desesperada, porque não sei mais o que fazer com ela e agora que meu marido foi transferido e tivemos que vir pra cá, parece que ela piorou.”

A moça do balcão, solidarizando-se com a mãe, disse o que qualquer pessoa no seu lugar diria: “Eu entendo”.

A menina quis gritar-lhe: “Que mania idiota vocês têm, vivem dizendo aos outros que entendem, que sentem, que imaginam, mas na verdade não sabem porcaria nenhuma. Eu só quero voltar pra minha casa, pro meu colégio, pros meus amigos; não quero ficar nesta cidade encardida, neste colégio imbecil.” Com as lágrimas, antes sob controle, voltando a jorrar de seus olhos, preferiu ficar com o silêncio, dizer aquelas palavras, das quais se arrependeria depois, não lhe ajudaria em nada, apenas aumentaria aquele sofrimento tão doído em seu peito.

- Mãe, podemos ir embora? Achava que não precisava ficar mais tempo naquele local, chamando a atenção das pessoas e incitando nelas o sentimento de pena.

- Já vamos filha. A mãe lhe disse com o mesmo olhar triste. Não sentia o que a filha sentia, mas sentia-se culpada por não poder fazer nada e essa dor era tão insuportável quanto a que a menina carregava.

Todos penalizados com o sofrimento daquela criança (que não a chamassem assim!) buscavam em seus íntimos sorrisos acolhedores, palavras de consolo, enfim, algo que lhe mostrasse, se ela permitisse, que as coisas naquela nova cidade, novo colégio e, com certeza, novos amigos, poderiam ser boas, ela precisava apenas tentar...

Mas o que a mãe não entendia, o pai não entendia, aquelas pessoas totalmente desconhecidas não entendiam e ela mesma não entendia, era que a sua dor era totalmente inconsolável.


Danielly Ziroldo

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