sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

GIRASSÓIS NO VARAL



Um a um, cuidadosamente, ela foi lavando os girassóis e pendurando-os no varal. Em meia hora já possuía um varal repleto de girassóis. Ao fim do trabalho, pôs-se em frente ao varal e admirou e sorriu. Estava satisfeita agora.

Girassóis de plástico! Flores de plásticos! Que mais bela invenção! Pensava a mulher enquanto analisava o seu minúsculo quintal coberto de cimento.

Chegou a pensar em comprar vasos de flores. Orquídeas talvez. Mas analisando a sua falta de tempo e falta de disposição para trabalhos de jardinagem e ao mesmo tempo desejando possuir flores para alegrar o ambiente, comprou os girassóis. A cor amarela de suas pétalas chamou a atenção dos olhos verdes da mulher e como seus olhos desejavam os girassóis, ela passou a desejar também. Levou uma dúzia para casa. Achando-os lindos, achando-os pouco, voltou no outro dia para comprar mais duas dúzias.

Em cada canto da casa um vaso de girassóis, que, apesar do nome, não giravam. Enfeitavam apenas. Isso era suficiente para ela.

Nos primeiros dias só tinha olhos para os girassóis. Depois foi esquecendo-os, acostumando-se com sua silenciosa presença. Meses se passaram e somente a poeira parecia lembrar-se das pétalas amarelas. Às vezes, espanava-os. Às vezes, não. Os girassóis foram perdendo o brilho, a alegria.

Um dia a amiga quis jogá-los fora. Ela não permitiu. Prometeu que os limparia. Ficariam de molho se fosse preciso. No outro dia já havia se esquecido da promessa.

Lembrou-se apenas hoje, duas semanas mais tarde, após sonhar que corria por um campo de girassóis.

Os girassóis do seu sonho eram tão lindos e seus girassóis de plásticos estavam tão sujos, tão feios. Sentiu-se culpada e duas lágrimas escorreram de seus verdes olhos. Uma por ter negligenciado seus girassóis de plástico. Outra por não poder possuir um campo de girassóis igual aquele dos seus sonhos.

Enxugou ambas as lágrimas e colocou todos os seus girassóis em um balde. Depois sorriu. Lembrou-se de sua alegria quando os comprou. Conformou-se, pois já era crescida e sabia que nunca poderia ter tudo o queria nesta vida. E já que não poderia ter um campo de girassóis, ao menos possuía três dúzias de girassóis de plásticos, os quais tinham a vantagem de serem quase eternos...

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Dany Ziroldo
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*Imagem por Dany Ziroldo.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

PARA COMEÇAR BEM 2010

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Planejei começar este ano escrevendo um texto sobre uma superstição de virada do ano, no entanto, ainda não tenho controle sobre as palavras e elas se moldam conforme sua vontade. Já que o texto sobre a superstição – o que fizermos durante a passagem de um ano para o outro será o que faremos pelo resto do ano que está começando – não quis ser escrito, escreverei sobre o inexplicável funcionamento das máquinas.

Certa vez li um texto sobre a conspiração das impressoras. Não me lembro de quem era o texto e nem o que dizia exatamente, lembro-me somente que falava sobre o curioso fato de que as impressoras sempre param de funcionar quando mais precisamos delas. Tive que concordar com o autor do texto, pois já havia passado pela experiência. Esse pode ser considerado um exemplo do inexplicável funcionamento das máquinas.

Outro inexplicável funcionamento das máquinas, que posso até considerar como uma coisa um tanto maluca, é quando os aparelhos param de funcionar e baseados em nossos restritos conhecimentos sobre tecnologias, – às vezes, restrito a antiga técnica de dar algumas batidinhas – tentamos arrumá-los, porém não temos sucesso. Então a única solução que encontramos é chamar um técnico para ver se ainda há conserto ou, inevitavelmente, teremos que comprar um novo.

A coisa maluca da qual lhes falava se refere ao fato de que quando o técnico chega para averiguar o problema, inexplicavelmente o aparelho volta a funcionar. Assim do nada. E ficamos com caras de tacho, pedindo mil desculpas e tentando explicar que ele não estava funcionando, que você não sabe o que pode ter acontecido... Alguns parecem entender a situação, mas outros se mostram bastante irritados pelo tempo que desperdiçaram.

Toda esta quase breve introdução é apenas para lhes contar sobre a situação um tanto constrangedora que vive hoje.

Quase duas semanas sem celular, resolvi comprar um novo, já que não compensava realizar o conserto do antigo. Depois de duas visitas na loja e mais de dez minutos para escolher o novo aparelho, enfim, me decidi.

Enquanto a moça colocava o celular na caixa, quis mostrar-lhe o que havia acontecido com o meu, ainda nem sei por qual motivo tomei a decisão de lhe mostrar, apenas senti essa necessidade – talvez seja uma dessas coisas que chamam de intuição ou coisas do gênero – e eis que tenho uma surpresa:

Inacreditavelmente o meu aparelho estava funcionando. Inacreditavelmente...

E agora, o que fazer? Gostava tanto do meu celular, só o estava trocando pois havia parado de funcionar, portanto, se ele estava funcionando, não havia motivos para gastar uma quantia considerável de reais com um novo.

Não, não compraria um novo. Com o melhor sorriso que pude esboçar, pedi mil desculpas para a moça da loja e para servir de consolo, disse-lhe que se o aparelho desse problema novamente, voltaria.

Só espero que ele funcione por bastante tempo, pelo menos, tempo suficiente para a moça esquecer-se do meu rosto e do tempo que lhe tomei...

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Dany Ziroldo