quarta-feira, 21 de abril de 2010

“POR QUE O CÉU FICA ASSIM PRETO...?”





Nunca entendi muito bem por que sempre era corrigida, e até mesmo repreendida, todas as vezes que o tempo virava para chuva e eu, admirada com as negras e imensas nuvens que cobriam o céu, dizia:

− O céu está preto!

Assim que exclamava minha admiração, corrigiam-me dizendo que não era preto, era escuro. Pois o céu não ficava preto, ficava escuro. Quando questionava sobre o motivo de ser escuro e não preto – já que estas duas palavras me pareciam de significados tão parecidos – apenas me diziam que se devia dizer escuro e pronto. Nunca obtive uma explicação.

No entanto, hoje, fui tomada pelo grandioso sentimento de satisfação das descobertas. Digo grandioso, porque poucas coisas neste mundo são capazes de nos proporcionar tanta satisfação quanto as descobertas.

Descobri, enfim, aquele que pode ser o motivo das repreensões e que, apesar de haver a possibilidade de existirem outros motivos para que não se diga que o céu está preto, tomo este como meu. A explicação que sempre me negaram.

Talvez, os que me repreendiam quando criança por dizer que o céu estava preto nem saibam por que não se deve usar o adjetivo preto para o céu nos dias de chuva. Provavelmente, eles foram repreendidos por seus pais, estes por seus avós e assim sucessivamente.

E foi pensando nisto, em uma repreensão que vem passando de geração para geração e, por algum motivo, se perdeu em partes com o passar do tempo, que acredito ter feito minha descoberta – encontrado, enfim, minha resposta – no livro Olhinhos de Gato, de Cecília Meireles.

É uma resposta cheia de superstições e preconceitos, sem nenhuma base científica e que pode até ter sido inventada por Cecília, ou não; no entanto, é uma resposta melhor que a ausência de resposta:


“− Por que o céu fica assim preto...?
Edwiges interrompeu a reza:
− Num diga preto, menina. Um home que falô essa palavra, num dia assim, veio o curisco, pegô nele e deixô que nem carvão. (Pruquê preto é ‘ele’ – o Canhoto...) A gente deve dizê: escuro.” ***




*** MEIRELES, Cecília. Olhinhos de Gato. São Paulo: Moderna, 1980. p. 38.




Dany Ziroldo



*Imagem por Dany Ziroldo.

10 comentários:

  1. Gostei do texto ;)
    parabéns pelo blog!

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  2. Parabéns amei seu blogger...
    Estou ti seguido*

    Por favor siga o meu faz pouco tempo que o fiz*...
    http://juizofinalnomeuquintal.blogspot.com/

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  3. Linda descoberta,Dany! As coisas vem de longe e sem explicações, apenas passadas ...beijos,chica

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  4. Luis Fernando Veríssimo tem um texto famoso sobre essas "descobertas" (o hilário Defenestração).

    E se Cecília Meireles tiver inventado a "explicação" é melhor ainda, eu acho!

    Um abraço.

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  5. Hola Dany!

    Hacía mucho tiempo que no veía tus posts. Este me hizo recordar cuando era niña y también había algunas preguntas que se quedaban con respuestas así, sin más complemento.
    Pero no entendí mucho el texto del libro. "No diga negro, niña. Un hombre que dijo esa palabra, un día así, vió al curisco, le dio y sólo dejó carbón" (qué es curisco, el diablo?, no lo encontré en el dicc)
    Bueno, recuerdo que algunas, pocas, preguntas terminaban con respuestas de ese tipo también...
    Un beso, y espero que todo te vaya bien,
    Carolina

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  6. .Muito bem escrito o texto . Parabéns

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  7. Olá..menina paranaense...saudades de vc e do nosso paraná....beijus gigantes em vc

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  8. Prosa muito agradável de se ler.

    Abraço

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  9. Dani...
    Olá quanto tempo que eu não passo aqui.
    Seu espaço continua perfeito, Perfeito.
    Parabéns..!!!
    Grande abraço.

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  10. ainda nao entendi : por que o céu é preto e não azul?

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