terça-feira, 4 de novembro de 2008

UM FIM PARA TODAS AS COISAS


Enquanto caminhava, olhando para o céu numa tentativa de adivinhar contornos entre as nuvens, respirei fundo e perguntei a estes seres intocáveis se eu ainda teria tempo.

- Digam-me nuvens! Ainda tenho tempo para desistir?

Gritei o mais alto que minhas cordas vocais permitiram, mas esqueci de abrir a boca para que o som pudesse sair e chegar aos ouvidos das nuvens, por isso ele bateu nas paredes internas de minha boca e ressoou, unicamente, dentro de mim.

Se ao menos as nuvens tivessem me ouvido, talvez fossem capazes de me dar uma resposta, talvez me encorajassem a largar tudo, jogar tudo para o alto (para as nuvens) e me libertassem deste sentimento de impotência, de incapacidade.

Contudo, mesmo sem as respostas das nuvens, quase adivinhando o que me diriam, temo ser tarde, temo, profundamente, não haver mais tempo de desistir. E, hoje, por acreditarem que não sou mais criança, por permitirem que eu já faça minhas escolhas, por eu ter escolhido começar algo, por tudo isso e mais um pouco, ainda hoje, exigirão de mim um fim para o que comecei, não se importando o quanto ou como este fim poderá me afetar.

Se ao menos pudesse chorar e comover o coração dos verdadeiros adultos, aqueles que conhecem o mundo e sabem das coisas, talvez ainda tivesse uma chance de desistir e evitar o fim.

Apesar desta minha vontade de fugir, desta minha recusa em aceitar o inevitável, devo reconhecer: Não há mais tempo e o fim não poderá ser evitado, os fins nunca poderão ser evitados, de uma forma ou de outra, sempre haverá um fim para todas as coisas (quem será que, para minha tristeza, descobriu isso e que me fez, neste momento, constatar e repetir?). Mesmo se jogamos a toalha ou levantamos uma bandeira branca, conseqüentemente, estamos caminhando para uma forma de fim, provavelmente, a pior forma de fim. O fim ao qual estão fadados os mais covardes.

Se ao menos pudesse voltar no tempo e começar tudo novamente, se pudesse fazer tudo diferente (quem nunca desejou isso um dia?), talvez não estivesse andando por aí, tentando falar com as nuvens e buscando nelas, desesperadamente, uma solução.


Dany Ziroldo

3 comentários:

  1. Olá, Dany... muito bom este seu espaço... ao ler tuas palavras me veio a imagem de alguém que precisa de uma mão estendida, como tantas vezes precisei. Um sentimento de ser deixada a solta, quando todos parecem acreditar em nós, sendo que nós mesmas ainda não acreditamos.
    Ofereço-te palavras-abraços, pra compartilhar as dores-poesias.

    Voltarei sempre aqui, e aguardo sua visita para que continuemos a trocar...

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  2. Ando crendo que verdadeiros adultos não existem, no fundo acabamos sempre por ser uma "criança" medrosa e insegura. Só que alguns disfarçam bem.
    Pena que tudo se encaminhe para um fim, infelizmente!!!

    Muito bom seu texto, há dias que me sinto exatamente assim
    =/

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  3. Estava passando em um blog, que a dona era sua amiga, a moça ai de cima, e vi o seu lá, e resolvi dá uma passada aqui também...

    Adorei seu texto...

    Quem derá se ao menos o tempo voltasse pra podermos reparar algo!!!

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Dany Ziroldo