segunda-feira, 25 de agosto de 2008

DE REPENTE GRÁVIDA

Retirou o pijama da gaveta, se despiu e apenas de calcinha e sutiã contemplou-se no espelho do guarda-roupa. Olhava com um certo desgosto os quilinhos a mais que lhe sobravam na barriga, coxas, nádegas... No entanto, sorriu. Com certeza as perderia rapidinho, os exercícios na academia e o regime se encarregariam em desaparecer com elas, além de lhe dar um corpinho invejável.

Vestiu o pijama, apagou a luz e deitou-se. Amanhã já seria segunda-feira e muita coisa a esperava no trabalho.

O som do despertador se confundiu com seu sonho e só acordou por causa dos gritos da sua mãe. Sentia-se estranha, a barriga lhe incomodava, era como se estive maior, mais rígida. Lembrava uma barriga de grávida.

─ Mãeeeeeeeeee!!!
─ O que houve Isadora? Quer acordar seu irmão?
─ Mãe, veja minha barriga, ela está enorme!
─ E precisava me gritar por causa disso, claro que ela vai estar enorme. O que você queria? Já faz cinco meses.
─ Cinco meses? Cinco meses do que mãe?
─ Ai Isadora, acho que você deve estar dormindo ainda. Cinco meses de gravidez, oras.
─ Mas...
─ Vá se arrumar rápido, porque já está atrasada e me deixe ir terminar o café.

A mãe deveria estar louca, foi o que pensou Isadora. Grávida, mas que bobagem, ela não poderia estar grávida, até porque era virgem. Isso mesmo, virgem! E ela não era Virgem Maria para conceber um filho assim, do Espírito Santo. Pensou então que deveria ser uma doença. “Como é mesmo o nome daquela doença que a barriga incha e fica cheia de água? Barriga d’agua?” Achava que só poderia ser isso e precisava ir correndo ao médico.

Foi ao banheiro ainda meio atordoada, lavou o rosto abundantemente para tentar acordar daquele pesadelo.

Tomando café, pensou em outra possibilidade. “Uma gravidez imaginária!” Mas as mulheres ficam grávidas de mentira quando querem ter filhos e esse não era o caso dela, na verdade, ainda nem sabia se um dia gostaria de ser mãe, achava que não levava muito jeito pra coisa.

─ Mãe, vou ao médico. Tá acontecendo alguma coisa estranha comigo.
─ Quando estamos grávidas é normal se sentir assim, filha.
─ Mas mãe, eu não estou grávida. Como posso ficar grávida assim, da noite pro dia? Isso é impossível!
─ Isadora! Isso que você está fazendo não tem graça nenhuma e faz favor de pegar suas coisas que o Ricardo já está lá fora te esperando.
─ Mas o que o Rick tá fazendo aqui?
─ Como assim o que ela ta fazendo aqui, Isa? Como todos os dias, depois que ficamos sabendo da gravidez, ele vem te buscar pra levar ao trabalho. Você sabe como ele é, não quer que aconteça nada com o filhinho e a amada dele. Agora vamos, vamos, que já é tarde.
A mãe a foi levando para fora sem permitir que ela continuasse argumentando que não teria nenhum filho com Ricardo.
─ Bom dia meu amor! Como está a grávida mais linda do mundo e esse bebezinho lindo?
─ Eles estão ótimos, Ricardo.

Dona Rita se antecipou, antes que a filha dissesse mais alguma loucura.

Isadora entrou no carro um pouco contrariada, mas já não tinha forças pra argumentar. Todos ao seu redor ficaram loucos de repente, ou seria ela que estava louca? Preferia não pensar em mais nada.

Entrou no escritório cabisbaixa e isso chamou a atenção da sua amiga, que correu-lhe ao encontro para abraçá-la e perguntar o que estava acontecendo. Isadora deu-lhe um abraço forte e começou a chorar, pensando que não poderia acordar grávida de cinco meses, que nunca deixara Rick lhe tocar mais do que julgava ser necessário, que não tinha condições de ser mãe e ainda tinha a academia, não poderia mais fazer exercícios por um bom tempo e não perderia aqueles quilinhos, pelo contrário, ganharia mais. Quanto mais pensava em tudo isso, mais intenso era o seu choro, o qual preocupava muito a amiga.

─ Isa, o que está acontecendo? Algum problema com o bebê ou com você?

Ela provavelmente acordou no dia errado, no ano errado, talvez aquilo fosse o futuro, pois até a sua amiga, sua melhor amiga, realmente achava que havia um bebê dentro da sua barriga. Todos poderiam estar zombando dela, menos Ana, sua amiga/irmã Ana, não.

Isadora sabia que não adiantava continuar dizendo que não estava grávida, pois todos pensavam o contrário e cada vez que ela dizia isso, achavam que ela estava ficando louca.

Já estava decidido! Assim que encerrasse o expediente, correria ao consultório da doutora Sandra.

─ Não se preocupe Ana, estou bem, só me deu vontade de chorar. Obrigada por estar aqui, ta.
─ Você sabe que sempre vou estar aqui e não precisa me agradecer, ouviu?
─ Ana, você é um anjo. Agora vamos trabalhar? Temos muita coisa pra fazer hoje.
─ Vamos, mas antes, vá lavar seu rosto, não vai querer que todos te vejam assim, né.
─ É, acho que você tem razão.

Os ponteiros do relógio pareciam estar congelados, pois já havia marcado a consulta, organizado uma pilha de papéis, digitado dois ofícios para o chefe, sem contar, as inúmeras vezes que precisou correr ao banheiro, nunca sentiu tanta vontade de fazer xixi em toda a sua vida como naquele dia.

Isadora estava agoniada e a situação piorava a cada vez que lhe perguntavam sobre o bebê. Todos sabiam, menos ela, a personagem principal, ou seja, a mãe.

Com muito custo, os ponteiros acusaram meio dia. Isa pegou sua bolsa e avisou que precisava ir ao médico aquela tarde. Chegou ao consultório um tanto apreensiva e com os pensamentos correndo a mil. “Como direi à doutora que acordei grávida? E se ela também pensar que estou grávida? Ela pode querer me internar...”.

─ Isadora Medeiros – chamou a recepcionista.
─ Boa tarde doutora Sandra!
─ Boa tarde Isadora, como vocês estão?
─ Vocês? Vocês quem? Só vejo eu por aqui.
─ Pergunto de você e do bebê. O que lhes trazem aqui?
─ Ai doutora, é esse suposto bebê que me traz aqui.
─ Como assim, suposto bebê? Há algo errado com ele?
─ Não, não. Deixe eu te perguntar uma coisa, é possível alguém dormir e acordar grávida de cinco meses?
─ Que loucura é essa Isadora? Esta pergunta é absurda! Claro que ninguém pode ficar grávida de cinco meses de um dia para o outro.
─ Pois então doutora, é isso que estou tentando dizer pra todo mundo, mas ninguém me escuta. Eu não estou grávida. Não estava ontem, então é impossível que esteja hoje.
─ Isadora, você não ficou grávida de repente, sei que pode ser difícil se acostumar com a idéia de uma gravidez, principalmente assim, uma gravidez não planejada, mas você precisa aceitá-la. Em alguns meses você estará dando a luz a um menininho ou uma menininha linda.
─ Todos estão ficando loucos!!! Eu não estou grávida! Ouviram isso? Não estou grávida!

Isa entrou em prantos, não conseguiu conter aquela explosão e agora chorava, sem saber o que fazer, chorava. A doutora Sandra tentou acalmá-la e entrou em contato com a família para que viesse buscá-la. Antes de deixar que fosse embora, receitou-lhe alguns calmantes e lhe encaminhou para uma psicóloga, talvez assim, pudesse superar o choque com esta gravidez inesperada e aceitar o bebê.

Como sempre, muito atencioso, Ricardo buscou a namorada, comprou os remédios e a levou para casa. Ela não pronunciou nenhuma palavra durante o percurso e ele resolveu respeitar este silêncio. Em casa, dona Rita a aguardava muito preocupada, tentava entender o que estava acontecendo com a filha, no entanto, simplesmente, não compreendia.

Isadora tomou o calmante, foi para o quarto e como na noite passada, contemplou sua imagem no espelho, agora com mais do que apenas algumas gordurinhas. Deitou-se e desejou dormir para sempre.

***


─ Isadoraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!! Veja que horas já são! Toda segunda é a mesma coisa, da próxima vez deixo você dormir até a hora que quiser, daí quero ver só.

Acordou assustada, olhou o celular e ao ver a hora, pulou da cama rapidamente. Foi quando lembrou-se: “Ai meu Deus, e o bebê?” Passou a mão na barriga, porém não havia nada ali, absolutamente nada.

Suspirou aliviada...

Dany Ziroldo

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