domingo, 12 de outubro de 2008

A PENETRA

Cecilia bem que desejou não aceitar o convite. Disse não na primeira vez, disse não na segunda, mas temos que concordar que dizer não pela terceira vez era demais, até mesmo para ela.

E assim, não querendo ir e adivinhando que ao chegar lá, aqueles que fizeram o convite para uma festa que nem lhes pertenciam, encontrariam seus amigos e a deixariam ali, se sentindo a pior pessoa do mundo e jurando para si mesma que nunca mais aceitaria convite nenhum (exceto se este viesse do dono da festa e com o qual tivesse um bom laço de amizade), foi ao churrasco.

Por todo o caminho, esfregou as mãos, mordeu os lábios e quando chegaram, precisou respirar fundo para descer do carro. Ao longe, pôde ver rostos conhecidos, um ou outro desconhecido, mas nenhum amigo, ninguém de quem pudesse se aproximar, abraçar e dizer: “Que bom te encontrar por aqui!”.

O que se passou depois, já sabem. Enquanto tentava sorrir e se mostrar a vontade, seus pensamentos lhe feriam como lâminas. O refrigerante, que aceitou depois de oferecerem-lhe insistentemente, desceu por sua garganta como fogo. Perguntava para si mesma como poderia ter sido tão burra a ponto de aceitar aquele convite. Se ao menos o carro lhe pertencesse e soubesse dirigir, poderia inventar uma dor de cabeça e ir embora.

As músicas sertanejas e gauchescas, das quais tinha verdadeiro horror, corriam no mais alto volume pelo salão, algumas pessoas dançavam, outras apenas conversavam e riam. Cecilia permanecia encostada na parede, com o copo quase vazio na mão, balançando positivamente a cabeça sempre que se dirigiam a ela.

Sua agonia se agravava a cada vez que uma das convidadas da festa se esforçava ao máximo para que ela, que desempenhava o pior papel de penetra já existente, se sentisse a vontade. Aquela mulher mal lhe conhecia, mas fazia questão de tratar-lhe com muita simpatia e carinho, e este tratamento fazia com que se sentisse culpada por não conseguir retribuir aquele esforço de transformá-la em uma convidada desejada. Sentia-se culpada por descobrir que o problema não estava nas outras pessoas, mas sim, nela.

Tentou uma aproximação, precisava ser mais sociável. Sentou-se próxima à mulher que lhe fora tão receptiva e pensou em puxar conversa. Mas sobre o que falaria? Ela que era uma péssima falante, que sabia falar apenas de escola, estudos, uma ou outra coisa de literatura, livros ou futebol, sobre o que falaria? Todos estes temas pareciam estar muito distante dos interesses daquela que a tratava tão bem e para não se tornar inconveniente, não ousou dizer palavra alguma.

De longe, um homem a observava e ela fingia não ver aqueles olhos cheios de interesse. Chegou a pressentir a intenção dele de convidá-la para uma dança, contudo, para evitar a situação constrangedora de ter que responder ao convite, levantou-se e foi se refugiar no banheiro feminino...

Apesar de não ser mais inverno, a noite, de repente, tornou-se gelada. Os convidados, um a um, sentiram a necessidade de voltar para casa se proteger do frio que não esperavam. O dono da festa encarregou-se de apagar a churrasqueira, silenciar as músicas e desligar as luzes.
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Danielly Ziroldo

3 comentários:

  1. Ia as festas tem dessas coisas...nem sempre a música que toca lá é a nossa preferida...ainda mais quando é festa de família...hehehe.

    Depois passa lá no Café com Notícias.

    Abraço,

    =]

    -------------------
    http://cafecomnoticias.blogspot.com

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  2. Obrigada pela visita!!!
    Depois leio com calma seu blog ok?!

    Seja bem vinda!

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  3. As vezes mesmo quando convidados nos encontramos em situações assim. Será por isso que não vejo graça em festas?

    bom, de verdade, adorei seu blog, aceita troca de links

    Bjs

    Petsha

    http://www.vidaprivadablogpublico.blogspot.com/

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