domingo, 7 de setembro de 2008

CONTROLAR OU CONTRARIAR?


Enquanto seguia em direção à casa de minha avó com meu priminho, ele me disse que era preciso “contrariar” a bicicleta para não cair. A princípio, pensei que havia apenas trocado a palavra e com a intenção de fazer com que ele percebesse seu engano, criei várias frases, dando ênfase à palavra contrariar. Frases do tipo: “Você tem certeza de que precisamos CONTRARIAR a bicicleta para não cair?” ou “ O que acontece se eu não eu conseguir CONTRARIAR a bicicleta direito?”

Bem, não deu certo. Ele não havia apenas cometido um engano, realmente acreditava que a palavra certa a ser utilizada (apesar de que eu desconheça quais significados esta palavra possa ter para ele) era contrariar e não controlar, dominar, etc. Ficamos assim, não insisti, muito menos o corrigi, pois não senti necessidade e esta sua troca inocente fez com que meus pensamentos voassem mais longe...

Mesmo inconscientemente, não é que meu priminho poderia estar com a razão?
Deixe-me explicar. Primeiro, o que se entende por controlar? No meu “Dicionário Prático Brasileiro” e acredito que em todos, diz algo do tipo: Exercer o controle; ter o domínio, etc. e tal. Já em contrariar, entre todas as suas significações, temos: fazer oposição a; desagradar, molestar e assim por diante.

Pensem comigo, se alguém está no controle, isso quer dizer, em palavras mais simples, que é ela/ele quem manda. Se ela/ele manda, então tudo será feito conforme suas vontades e decisões. Não que isso seja ruim e desnecessário. Em uma empresa ou em uma equipe, por exemplo, sempre haverá alguém no controle e sua existência é imprescindível para o sucesso de ambos (lógico, isso acontecerá somente se a pessoa com o poder for competente). Entretanto, ao se imaginar que há um controlador, em contra partida, teremos também um ou vários controlados. Estes últimos, se na função de controlados, podem sentir-se, portanto, contrariados (aqui está a nossa relação com as palavras “controlar” / “contrariar”) com as decisões tomadas pela pessoa com o controle, gerando alguns conflitos. Numa instituição, talvez isso não seja muito evidente (ou fazemos de conta de que não existe), até porque há coisas muito mais importantes para se preocupar (como não perder o emprego, por exemplo), que supera qualquer contrariedade.

Para tentar explicar melhor, vamos, então, mudar o foco para uma relação controlar versus contrariar muito mais complexa. Vejamos uma relação amorosa, seja esta, entre marido e mulher ou apenas, entre namorados. Se um dos dois se sentir e se colocar no papel de controlador, o outro terá que, obrigatoriamente, assumir a função de controlado para que esta relação de amor e de ódio se mantenha firme e viva. Assim, se um controla tudo, obviamente, sempre estará contrariando o outro em algumas ou até mesmo em todas suas decisões; a menos que ambos queiram exatamente as mesmas coisas (o que creio que não exista, quer dizer, quando o amor é cego, é bem capaz daquele que não enxerga – por causa do amor - achar que quer exatamente tudo como o outro quer, sem tirar nem por). Mesmo se não formos tão extremos e pensar que o papel de controlador e controlado se alternam entre ambos, ainda assim, teremos a contrariedade de uma das partes (penso que aceitar e superar essa contrariedade devem ser aquilo que chamam de doação do homem e da mulher, para que sua relação não se transforme em pedaços. É inevitável, uma hora ou outra, alguém sempre terá que ceder).

Agora, simplificando tudo, é óbvio que a partir do momento em que se estabelece uma relação de controlador e controlado, sempre teremos um contrariado (e como é difícil aceitar esse papel !!!).

Deste modo, talvez não tenha sido tão equivocada a troca de palavras do meu priminho, pois se ao controlar, eu contrario, então por que não usar contrariar ao invés de controlar?



Danielly Ziroldo

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