Comovem-me os passos lentos da velha senhora, enfrentando a ladeira com a convicção de quem ainda possui a força da juventude nas pernas; força, que eu, aos 20 anos, receio já ter perdido.
Não há dia em que não se encontre os castanhos olhos, envelhecidos pelo tempo, mirando o horizonte com o encantamento de uma criança, com quase uma esperança de que se pode alcançar o sol em seu berço, lá nos confins da terra. Basta caminhar em sua direção, caminhar...
Acompanha-lhe o chapéu em dias dominados pelo astro rei; certas vezes, uma toalha para enxugar o suor que insiste em correr sobre a pele enrugada, conseqüência de tantos momentos acumulados durante uma vida. Em dias dominados pelas negras nuvens, acompanha-lhe o negro guarda-chuva; assim, encontram-se em plena harmonia, nuvens e tecido, em meio ao espetáculo da chuva.
Espreito cada movimento por entre as cortinas, escondo-me para que aqueles olhos não percebam a inveja por detrás dos meus, uma inveja inocente, mas nem por isso mais perdoável...
Pudera eu ter a sabedoria absorvida pelos brancos fios de cabelo? Possuir a firmeza do olhar? Enfrentar o mundo com tal disposição?
Não... Sou fraca em minha covardia.
Seguem...
Olhos fixos...
Passos firmes...
Em direção ao horizonte...
E uma doce inveja por detrás das cortinas...
Danielly Ziroldo
* Texto publicado no Recanto das Letras em 13/06/2007
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